Viva La Revolución não é bem um western italiano. Ou melhor: é igual à maioria dêles no critério de estilização e no ritmo stacatto para as cenas de ação e morticínio. Seu argumento, no entanto, vincula-se a fatôres históricos. México do início do século: a vitória da fôrças de Madero e a luta dos peões, com auxílio dos bandoleiros, pela posse das terras.
Revolução, como ninguém ignora, continua a ser até hoje, uma palavra extremamente ambígua. Também o é, dada a sua carga irônica, no titulo original deste filme. Com Madero assumindo o poder, os trabalhadores do campo largaram as armas, pensando que a sua revolução tivesse triunfado e que a reforma agrária entraria em fase de execução imediata. Ledo engano - para usar a expressão de elson Rodrigues. Se o espaço de papel já gasto a fim de se escrever e legislar preventivamente sôbre reforma agrária em países não-desenvolvidos fôsse transformado em terra, os camponeses não seriam, já, somente donos do mundo - talvez de todo o sistema solar. Então, o nosso herói, Tepepa, ao ver que a revolução cabia apenas entre aspas e que as fôrças militares estavam simplesmente matando os camponeses, para devolver as terras aos latifundiários, não encontra outra solução senão aquela de se tranformar definitivamente em bandoleiro E, aí, desenrola-se a fieira: assaltos, assassinatos, estupros etc. Contra ele, aparece o general Cascorro, ou melhor Orson Welles, que, pelo visto, aceitou o papel nesta produção a fim de poder consumir mais algumas caixas de uísque. E, pelas cenas, parece que bebeu tudo mesmo durante a filmagens.
O personagem-título - Tepepa - é vivido por Tomas Milian, num misto de contorsões à la actor's studio e de improvisação amadorística.
Parece estar permanentemente quicando no palco de filmagem, com esagares inócuos e uma salivasão excessive. Orson Welles, sonado, uniformizado, fala sempre entre dentes, quas aos murmúrio.s E ainda há um ingles, John Steiner, no meio da trama, a conferir o contraste sofisticado. Entrou na história porque Tepepa, que também não era nada bôbo, estuprou sua noiva (Ana Maria Lanciaprima), que é evocada visualmente na base do pisca-pisca de Renais.
Tudo muito precário salvando-se algumas composições e certo efeitos plásticos. Os homens de Hollywood (remember Viva Villa) sabem muito melhor glorificar a épica dos subversivos. O diretor Giulio Petroni quis apenas mostrar bossa e nada mais. O plano final devia fazer a glória das folhinhas ou das tampas de caixa de bombom da época. Ninguém chora. Mesmo, dentro da própria tela, porque o aparelho de som do cinema Riviera não deixa.
Correio da Manhã
03/06/1970