La Doppia Face é um policial de produção ítalo-germânica, mas com o diretor (Robert Hampton) e alguns interpretes inglêses e/ou americanos. Estava prevista a salada. Pena que a pressa e a falta de imaginação também tenham aguado o môlho.
Uma realização que se anuncia baseada em romance de um dos mestres do gênero: Edgar Wallace. Uma injustiça para com o idealizador da história. Melhor aproveitada, numa produção de capricho, com roteiro, direção e elenco atendendo à unidade necessária e aos naturais lances de suspense, teríamos, pelo menos, uma fita de bom appeal ao entretenimento. Hollywood que o diga.
Em linhas gerais, o espectador não precisa ser experiente, nem aficcionado do gênero para adivinhar quem é o assassino, decorridos uns vinte minutos de projeção. O entrecho diz respeito ao assassinato de uma jovem, linda e rica, quando colocam uma bomba no seu carro esporte. O marido sai à caça do criminoso, esbarrando nas garras de várias gatas, louras e morenas (uma delas se despe ligeiramente). O mesmo, evidentemente, fazem dois inspetores de polícia, muito mal situados na trama, assim como o pai (Sidney Chaplin), a secretária e uma amiga lésbica da falecida. Aparece, em paralelo, numa cena de cinéma-cochon, assistida pelo protagonista, uma mulher com cicatriz no pescoço idêntica a da morta - o que torna ainda maior a confusão.
Por seu turno, o fotógrafo, Gabor Pogany, que já brilhou noutras oportunidades mais favoráveis, adota uma linha expressionista das mais surradas, onde a funcionalidade recebeu bilhete azul. A busca do insólito, em várias seqüências, não atinge seu alvo. Ingredientes confusos entre si, ritmo inexistente, sensação de nítida displicência, como se a única preocupação fôsse a de todos os responsáveis se livrarem do abacaxi e atirá-lo de imediato na praça. Em suma, nesta semana em que se reprisa Goldfinger, o terceiro filme da série James Bond, pode-se fazer uma perfeita comparação, dentro de gêneros parecidos, entre uma fita bem administrada e o seu oposto.
No elenco, Klaus Kinski, no papel principal, emite tôdas as caretas obrigatórias de cinema mudo, de há cêrca de meio século. A sua compenetração aproxima-o do ridículo. Sidney Chaplin completamente apático, deslocado. A equipe de mulheres - Annabella Incontrera, Kristiane Kruger, Margaret Lee -, boa em potencial, limita-se a envernizar o caos.
Última Hora
21/10/1971