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O enigma de Andrômeda

O poderio tecnológico dos Estados Unidos se reflete no cinema e dá fundamento à sua ontologia. O Enigma de Andrômeda (The Andromeda Strain) é um produto estético deste poderio: aborda-o e espelha-o, com todos os recursos e efeitos de som, imagem, montagem na tela ampla de 70 milímetros.
Um entrecho, baseado em obra de Michael Crichton, cujo maior aval para o êxito mp cinema já era a presença de Robert Wise, como diretor e produtor. Não falha: se formos enquadrá-lo no gênero science-fiction, trata-se do maior filme nesta área, logo abaixo de 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Pode-se mesmo dizer que se trata de uma espécie de 2001 intimista, com muitas analogias de estilo e concepção dramática.
Aliás, Robert Wise já havia dirigido, em 1951, um dos S-F mais cotados: O Dia em que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still), Wise, inicialmente, foi montador dos dois primeiros grandes filmes de Orson Welles, Cidadão Kane e Soberba. Começou a dirigir na série de famosas produções de Val Lewton (The Curse of the Cat People). Em 1949, já fazia um clássico do cinema: Punhos de Campeão (The Set-Up). Dai em diante, foi sempre um dos diretores mais brilhantes de Hollywood.
Andrômeda é uma célula viva, desconhecida e extraterrena, chegada à Terra no bôjo de um satélite artificial . O seu contato inicial resulta na morte de população de 68 pessoas do lugarejo de Piedmont (New México), com exceção de um velho e um bebê. Para descobri-la e tentar destruir seus efeitos, quarto cientistas se isolam, em sua odisséia subterrânea, nos labirintos e paraphernalia de um laboratório secreto, instalado no deserto.
Já os letreiros simbolizam um mundo de códigos, letras e cifras eletrônicas, o paraíso (ou inferno) tecnológico, onde o gesto humano não tem lugar, nem sentido. Depois, o contraste das lamúrias do velho e do chôro da criança dentro da frieza do mundo experimental, da gélida alucinação de um local, onde tudo é máquina; e também impotência para enfrentar o desconhecido. Mas, ao contrário de em 2001, em O Enigma de Andrômeda, o choque cultural já chega filtrado pela intermediação da ciência.
Um clima de suspense e tensão e é mantido do comêço ao fim do espetáculo (o espetáculo da tecnologia), graças ao admirável domínio de Wise dos meios cinematográficos. Não há fantasia, como nos science-fictions de outróra. Há, sim, materializada, a hipótese fantástica, mas provável, do impacto cósmico diante do desconhecido. O nomem perde sua medida e cai num contexto de história de horror, como acontece no desfêcho. E, nisso, Kubrick, que fora influenciado por Wise no início de sua carreira (Killer's Kiss e The Killing), passa a influenciá-lo, mediante o humor do arremate final e alguns métodos de sua odisséia espacial.
O Enigma de Andrômeda é um dos melhores filmes do ano.

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