THE MEPHISTO WALTZ é um dos melhores exercícios cinematográficos dos últimos tempos, no gênero thriller demonológico. Fala-se muito na influência de Rosemary's Baby, de Roman Polansky, mas trata-se muito mais de uma influência do sucesso, seja do livro, seja do filme do que da obra em si. Enfim, pode-se dizer, uma linha temática retomada em alto nível.
Na fita de Polansky existia uma discrição de efeitos em favor de um desenvolvimento da trama, na base de sutilezas e detalhes que armavam o crescendo de intensidade dramático-psicológica. Agora, em Balada para Satã, predomina o sentido imediatamente mais fantástico, apoiado no impacto dos efeitos.
O diretor, Paul Wendkos, ao iniciar sua carreira, em 1957, com The Burglar, despertou bastante entusiasmo. Parecia um outro Stanley Kubrick, também começando em produção B. O restante de sua carreira até aqui, com pequenos altos e pequenos baixos, foi decepcionante. Não mais que de repente, com êste fascinante The Mephisto Waltz, dá uma de mestre. Aproveitou a oportunidade de um bom livro, de um roteiro razoavelmente esquematizado e soube empregar os indiscutíveis recursos técnicos que teve à mão, evocando tudo que, no mínimo há uns quinze anos, deve ter assimilado nos cineclubes
O seu domínio da manifestação expressionista, auxiliada pelos lances da grande angular, torna-se evidente em tôda a extensão do filme, onde, apesar da sombra dos riscos, inexiste qualquer tom caricato ou de mau-gôsto. Dosagem precisa, em favor do clima tradicional de argumentos no gênero. E, como método de pontuação, utiliza os cortes de maneira admirável.
Algumas seqüências de indiscutível brilho, dignas da velha aura hollywoodiana. A principal, sob êsse aspecto, talvez seja aquela, onírica, em que Jacqueline Bisset termina antevendo a morte da filha. uma féerie de formas, côres, rítmos plásticos - suma visual do fantástico. Ou, então, a seqüência do minucioso ritual, onde, através da atuação de sua filha, o satã-pianista irá se apossar do corpo do discípulo e futuro herdeiro: novamente a festa de efeitos e o bom-gôsto a esgrimir, a cada shot, contra o ridículo. Enfim, a sabedoria de transformar o pretenso climax em anticlímax e provocar, no desfecho, a reversão de expectativa - o único momento de concessão ao humor, ao leve, que glosa a inversão do happy-ending.
No elenco pontifica a homogeneidade Curd Jurgens já é o tal físico adequado ao papel; Alan Alda ensaia algumas expressões à la Terence Stamp, mas acaba-se ajustando; Barbara Parkins bem convicente na filha do pianista. Bradford Dillman comparece, no papel do prímeiro marido de Barbara. Mas a surprêsa agradável constitui o tour de force de Jacqueline Bisset, presente em quase tôdas as cenas e suportando a prova com brilho.
Última Hora
20/11/1971