Durante a Segunda Guerra Mundial, o cinema (principalmente o de Hollywood) se esmerou em aproveitar o filão de espetáculo dos combates aéreos. Havia motivação, não só de bilheteria, como dramática: a guerra batendo à porta dos próprios EUA. A planície do western, em analogia de tiroteio, desdobrava-se para os céus.
Depois, a moda passou a essa espécie de fita ficou em branco durante largo tempo. Recentemente, Hollywood redescobriu o ensejo. Mas, agora, o cenário também volta a ser o da Primeira Grande Guerra - a última Guerra onde o imenso avanço da tecnologia ainda não havia chegado a empanar os lances individualistas. Era a época dos combates aéreos, mormente entre alemães e inglêses, onde os ases encaravam tudo como se fôsse um esporte, mantendo, inclusive, as regras de ética, a admiração pelos feitos do inimigo. Afinal, havia lordes, barões, condes e outras figuras no jôgo. The Blue Max, de John Guillhermin, talvez seja, por enquanto, a melhor realização no gênero.
Aguias em Duelo (Von Richthoren and Brown) não consegue atingir o nível do filme citado, porém é uma realização que consegue construir determinado
clima de agrado e interêsse. Seu diretor, Roger Corman, vai direto ao assunto - o filme se desenrola, de fato mais tempo no ar do que na terra. Elide os circunlóquios dramáticos e fica na épica pura. Algumas festas, pileques, discussões e condecorações preenchem parcimoniosamente os elos necessários entre cada combate. Aparece, inclusive, caricaturado, o então tenente Herman Goering, como uma espécie de vilão de porta de açougue.
Roger Corman possui o senso de sintetizar o insólito. Embora, segundo a opinião do crítico Andrew Sarris, seja mais um produtor do que, propriamente, um diretor, goza de bastante prestígio junto a outros criticas das revistas Cahiers du Cinéma e Positif. Já fêz de tudo em matéria de ficção no cinema: de versões de Edgar Allan Poe, até o psicodelismo em motocicleta, do science-fiction, ao filme de gangster. Agora voa, mostrando as façanhas do barão Von Richthofen (John Phillip Law, que tanto embarca no avião que mal tem tempo de ser canastrão), até o dia em que o canadense Brown (Dom Strond), lutando inicialmente contra a incompreensão dos companheiros, melhora as coisas pelo lado de lá.
A ordem é ação continua: piques, loopings, metralhadoras chispando, sangue, explosões, correrias no hangar. A montagem envida ao máximo de sintese, numa exposição que se desenvolve aos saltos, sem permitir qualquer tratamento psicológico à narrativa – isto é, sem se preocupar em "trabalhar" o personagem. O resultado pode ser considerado eficiente, apesar de sem brilho.
Última Hora
11/11/1971