Something for Everyone, filme ele estréia do diretor Harold Prince, faz aquilo que toda a crítica - nacional e internacional - já assinalou: dá uma de Teorema, no sentido telúrico de anunciação que caracteriza a obra-prima de Pasolini, mas em tom simplesmente amoral, oscilando as situações entre os transes do jocoso ou do macabro.
O protagonista, Conrad, interpretado por Michael York, usa, não só de astúcia e inteligência, porém, principalmente, de seu ecletismo sexual, a fim de realizar as ambições cristalizadas desde as fixações infantis: ocupar, como senhor, o castelo imponente e vazio da decadente família, localizado numa das montanhas da Baviera. E assim faz: de cama em cama, até o leito nupcial, de criado a motorista, até a castelão, casando-se (certo que contra a vontade) com a gorducha de óculos, filha da Condessa Von Ornstein.
A história baseia-se na novela The Cook, de autoria de Harry Kressing, e a filmagens foram feitas in loco, na Baviera, ali na boca dos Alpes, com fotografia razoável, em côres, de Walter Lassaly. Daí, a presença de muitos coadjuvantes e figurantes alemães, conferindo o caráter típico do pano de fundo do entrecho.
Cínico e insólito
Embora sem grande brilho e engenho, o diretor dá ênfase às passagens cínicas e insólitas. Exemplo: em dado momento, a recém-casada. (Heidelinde Weis, no papel de Annaliese) surpreende o marido (Anthony Corlan, no papel de Helmut Von Ornstein) e o amante (York) beijando-se intensamente, bôca. em bôca, e tem o choque cultural, perdendo a noção das coisas. Noutra, a condêssa (Angela Lansbury), já bem cinquentona, prepara-se com todo glamour para a pré-noite-de-núpcias, com o mesmo York, que, àquela altura, já havia sido amante do filho e da nora. E o nosso protagonista cumpre os seus projetos táticos, de natureza erótica, com um savoir-faire digno de Wilde ou Casanova. E, no desfecho, as situações se acomodam e convergem para a batida etnica e humorística, perfeitamente do acordo com o espírito amoral da obra.
Faltou, talvez, ao diretor mais fimaginação, a fim de que o filme escapasse do plano da simples diversão agradável, para aquele de um maior nexo expressivo, mesmo de maior classe. Pensamos imediatamente no nome de Billy Wilder ou de Joseph L. Mankiewicz, como de cineastas capazes de ranhar a oportunidade perdida.
No elenco, Michael York atua com razoável desenvoltura, preferindo a contenção ao risco de explosões antifuncionais. Mas quem tudo domina, em material de trabalho com os personagens, Angela Lansbury, dando à sua condêssa um desembaraço e uma criatividade de comportamento dignos dos grandes atores no gênero. É ela - de longe – a melhor coisa de Diabólicos Sedutores.
Última Hora
13/11/1971