Pululam os estranguladores pela trajetória do cinema. O assunto, naturalmente, além de ser veio de susto ou frisson, permite alguns lances fotográficos, na base de sombras e claro-escuro. O diretor Richard Fleischer, no entanto, nos dois ultimos filmes - The Boston Strangler e este The Strangler of Rillington Piare - procurou, a partir de fatos verídicos, abordar
o tema de maneira menos expressionista ou sensacionalista. Usou a discrição
documental, aliada a uma técnica de realismo ambiental, onde procura, em especial, dar ênfase ao comportamento psicopatológico dos criminosos.
Os resultados, em ambos os casos, foram satisfatórios, embora desprovidos de brilho e de maior impacto, em têrmosde criação cinematográfica. A carreira de Fleischer, aliás, com execção do admirável Compulsion (outro argumento em torno de um crime famoso, forjado em têrmos dramáticos e com as notáveis interpretações de Dean Stockwell, Bradford Dillman e Orson Welles), oferece, no máximo, fitas de relativo interêsse: This Happy Time (O Amor... Sempre o Amor), Violent Saturday (Um Sábado Violento), Fantastic Voyage (Viagem Fantástica). Ele milita há 25 anos no cinema (55 anos de idade), tendo-se iniciado na direção com Child of Divorce.
Solista
O Estrangulador de Rillington Place apoia-se, principalmente, na extraordinária interpretação do protagonista, Richard Attenborough, que consumou uma composição inesquecível do tipo humano, nas menores reações, nos detalhes aparentemente desprovidos de significação. Sua presença já é uma garantia pelo interêsse do filme.
O desenrolar do argumento fixou-se no realismo das situações, embora, aqui, ao contrário do ocorrido no desfecho que proporcionou os acontecimentos relativos ao Estrangulador de Boston, bem protagonizado por Tony Curtis, não haja ensejo para o estudo cinedoeumental das manifestações anormais do criminoso. Fleischer solicitou a eficiente fotografia de Dennys Coop, no sentido de trazer ao espectador o máximo de autenticidade de ambiente, em contraposição com os requintes do assassino em perpetrar a posse e estrangulamento de suas vítimas. Como é comum, seu desejo de estrangular mulheres denotava o desvio da attitude sexual - em suma, a tara que leva ao crime. Nota-se o cuidado no cumprimento de cada etapa do projeto, desde atrair a vítima, mediante seus supostos conhecimentos médicos, até colocá-la perto de si, seja enterrando-a no quintal ou colocando-a em compartimentos das paredes.
Não há, práticamente, sequência de efeitos - tudo é uniforme e fundado numa técnica que conduz ao anticlimax. Trata-se de uma realização de bom nível, onde também os atôres coadjuvantes (Judy Geeson, John Hurt) contribuem para o nexo de unidade.
Última Hora
19/11/1971