The French Connection é ótima diversão. Na disputa do Oscar levou logo cinco, numa política das mais confusas, onde, ao mesmo tempo em que também premiava-se a interpretação normal de Jane Fonda em um filme quase medíocre (Klute), chutava-se Kubrick (The Clockwork Orange) para córner. É uma incoerência: se The French Connection ganha prêmio, já deveriam, há muito, ter agraciado 007 (qualquer das fitas de Connery), em nome da antiguidade dos métodos.
O roteirista, Ernest Tidyman, havia se baseado em livro de Robin Moore, a narrar um caso ocorrido com os policiais Eddie Egan e Sonny Grosso. O diretor, William Friedkin, e sua equipe técnica encarregaram-se de acionar o granguinhol, no tal ritmo alucinante de perseguições e correrias - tiros também, é claro -, banhados por uma iluminação eficiente.
Trata-se de espetáculo extremamente bem administrado. No molho, um certo toque de cinismo, além do humor no desfecho e em algumas cenas, quando é bem sacado: 1 - o entra-e-sai do protagonista e o chefe da quadrilha, na passagem do metrô, com o delicioso arremate; 2 - a espera de Gene Hackman, comendo sanduíche lá fora, no frio, enquanto os contraventores exercitam a gastronomia num bem calafetado restaurante de luxo; 3 - a dissecação do automóvel Lincoln, em busca dos pacotes de heroína.
Por seu turno, as sequências de ação mantêm o clima instigante do gênero. Mas essa coisa de automóvel batendo em automóvel, praticamente inventada em Point Black (À Queima-Roupa), de John Booman, já está ficando ultra-repisada.
A fotografia de Owen Roizman é muito boa. Mas essa história de décor natural e som direto não garante maior beleza, sequer realismo em muitos casos. De nada adianta isto, se o diretor William Friedkin mantém a estruturação do filme em termos acadêmicos, ou seja, ficção normal de princípio-meio-fim, ritmo fluente e acelerado, com sequências de ação física entremeadas com aquelas outras mais pausadas, na base do wit ou da conversa. Enfim, o lero-lero, a conversa fiada, pelo menos, serviram para angariar estatuetas.
Inútil ressaltar que os ateres estão bem, tanto os nativos, como os estrangeiros. A começar por Gene Hackman (no protagonista) e Fernando Rey (chefe da quadrilha) – lembra-se? -, o inesquecível tio de Tristana, de Buñuel. Em qualquer produção Americana razoavelmente caprichada, Isto é fato comum.
Operação-França é exatamente o contrário daquilo que dizíamos, na edição de sábado, a respeito de The Hired Hand: é diversão de alto coturno, especialmente destinada a quem vai ao cinema para se distrair, esquecer as tais misérias de cotidiano.
Última Hora
09/08/1972