O diretor Michel Deville assinalou o início de sua carreira com exercícios experimentais: Ce Soir Où Jamais, La Menteuse. Não encontrou eco nem êxito em suas tentativas de renovação apesar do interesse de alguns achados isolados. Partiu, então, para o filme de linha, onde vem demonstrando ser um diretor sem grandes brilhos, porém com um inegável mínimo de competência.
Este Le Débauché é bem um exemplo típico do estilo Deville: a fita convencional valorizada pela insistência no requinte de uma ou outra bolação insólita ao nível anedótico. Ela é operística em sua armação de tragédia e já aí figura uma das melhores coisas que o fundo musical inteiramente com base na obra de Bellini. Em ambiente aristocrático da França no século passado, nasce o amor sem futuro entre um janota libertino e devasse, que está querendo se matar aos poucos (Maurice Ronet), e uma viúva jovem entregue à vida tranquila no campo e às obras de caridade (Françoise Fabian). Esta última, vendo que ele não deseja concretizar o amor por achar imposível chegar às suas alturas, pula do pedestal e chega até a praticar o meretrício a fim de atria-lo pelo nivelamento. Nada feito. E o desfecho será dramático.
Uma espécie de marivaudage trágica a que se assiste sem muito esforço, sem entusiasmo nem desagrado. O filme é divertido, bem fotografado em tonalidades mortas e muitas mulheres se despem.
Françoise Fabian, hoje em dia, é uma das atrizes mais bonitas do cinema europeu. E não é só isso - quando a oportunidade vem, transforma-se em boa intérprete, bastando, para tanto, recordar o recente Minha Noite Com Ela (Ma Nuit Chez Maud). Aqui a chance é bem menor, mas ela aproveita bem, compondo com paixão seu personagem. Maurice Ronet possui o físico talhado para o papel e, sem o menor esforço, dá conta do expediente.
Roteiro, diálogos, montagem, tudo isso de Nina Companeez, que sempre trabalha com Deville. Este último, embora não repita o mesmo nfível de Benjamin - realização muito parecida quanto ao estilo -, conduz o espetáculo naquela leveza linear que anima o passatempo. E, na verdade, décor e paisagem são; aqui, duas estrelas de primeira grandeza, com alguns merecidos regalos para os olhos.
O Libertino é uma realização tão inconsequente como seu personagem-titulo. Mas dá pra ver.
Última Hora
31/08/1972