Dove Vai Tutta Nuda constitui mais uma incursão do diretor Pasquale Festa-Campanilc naquilo que se está transformando no gênero típico do cinema italiano, ou seja a comédia erótica - algumas delas com os lances da chamada grassura, outras, como esta, algo mais leves e tentando descerrar
uma mensagem simplória. ·
Aqui, realmente, há um pouco de Chaplin, Capra, surrealismo, dos quiprocós da. comédia norte-americana da década de 1940. A mulher nua é um misto de Giulieta Masina e Shirley MacLaine, em sua attitude (fisicamente, Maria Grazia Bucela dá um banho nas duas). A nudez, como um símbolo de pureza, de ausência de hipocrisia. Os pobres, os empregados, são diretamente do lado bom; os ricos, os empregadores, estão do lado falso. Já se viu muito isso - "dinheiro não traz felicidade" - que a humanidade, malvada, insiste em não acreditar.
É só lembrar a antiga temática daqueles cineastas americanos. Quanto às situações, algumas são bem um reflexo, uma réplica de muitas outras análogas, das antigas comédias. Exemplo: a mangueira que inunda o quarto, onde dormem o patrão e a "piranha", cujas camas saem navegando como se fossem embarcações; o jantar oferecido ao ministro da Fazenda e outras autoridades e figuras ilustres, onde um molho especial e a torta são tinta e massa de construção colocados inadvertidamente.
O contraponto algo surrealista vai por conta do personagem vivido, com o exagero da praxe italiana, por Vittorio Gassman, o barão Bruno com a cabeleira branca, ora rondando, ora invadindo a mansão.
O protagonista (Tomas Milian) é o empregado que mora no luxuoso andar de baixo da mansão, sob condição de cedê-lo para as aventuras extraconjugais do patrão. Um dia, em seu leito, ao despertar, dá com a presença de uma mulher despida, com peruca ruiva (Maria Grazia Bucela). Depois do espanto, ela lhe explica que o conheceu e se casaram em Londres, no dia anterior, em decorrência de colossal pileque. O rapaz, algo tímido e pouco dado ao esporte do sexo, pretende expulsar a intrusa, cujo noivo era um fotógrafo de modelos publicitários - quase todos em anúncios eróticos. Mas, com o tempo, vai sendo conquistado pela tal pureza; e, ao término dos vaivéns e quiprocós, acaba por adotar a filosofia contrária ao universo de competição.
Tudo naquela batida algo esfusiante, típica do filme italiano no gênero, o citado reviver de temas & situações em cores luxuosas e atares razoáveis. Uma realização que, apesar da falta de originalidade, poderia oferecer um resultado superior. Mesmo assim, vê-se com relativo agrado.
Última Hora
22/06/1972