Alguém atrás ela porta, dirigtdo por Nicolas Gessner, constitui mais um filme destinado, tão-somente, a explorar a popularidade de Charles Bronson. Este último já andou antes, colhendo melhores oportunidades. Agora, participa de qua1quer convite, de qualquer operação faturamento a toque de caixa.
Interessante constatar a empatia e a popularidade de determinados tipos fisicos e de comportamento encarnados por certos atôres. Assunto instigante para cine-sociólogos, cinepsicólogos ou cinemitólogos. Charles Bronson, embora horrendo, brutamontes e quase sessentão, deve dar, especialmente ao público feminino, uma sensação de proteção e ou segurança que se esconde por detrás da crosta desagradável. O resto é explorado pelos departamentos de publicidade das produtoras e distribuidoras.
Em Alguém atrás da porta, o público de Bronson poderá sentir uma certa decepção, porque ele não é o agente principal de acionamento do entrecho. apesar de permanentemente em cena. Como personagem, é mera massa de manobra para um crime engendrado pelo outro personagem, vivido por Anthony Perkins. Como hipotenusa (nem sequer musa) de um triângulo falso acionado na trama pelo médico, comparece Jill Ireland que já teve melhores chances, inclusive ao lado do próprio Charles Bronson.
A realização é rotineira sob qualquer ângulo de análise. O comercialismo e o imediatismo do roteiro poderiam ser salvos apenas por um Hitchcock, ou alguém de talento quase igual, nas imediações estilísticas. Para o diretor, Nicolas Gessner, a formalidade foi análoga a das repartições burocráticas: pegar na câmara e acompanhar as linhas do roteiro, como quem vai colorindo um caderno escolar.
Sob o aspecto de técnica e de recursos a produção até que é relativamente cuidada. Mas esse suporte, aqui, nada oferece em matéria de funcionalidade que acentue o natural objetivo catártico inserto no argumento. Fotografia razoável etc., etc. A câmara consuma os seus passeios em zoom, erotismo e violência entram com as doses habituais, sem excessos.
No elenco, lá está Bronson a girar, atarantado, pelo casa de Perkins. Não cria nada de especial. O namorado de Jill aparece para levar uns tiros. Anthony Perkins, bastante envelhecido parece-nos péssimo. Um ator que foi lançado pela década de 1950, então jovem, esbelto, homossexual, com fumaças de querer lutar pelo espaço legado por James Dean e congêneres. Mas, realmente, a não ser sob o pulso de grandes diretores, como Hitchcock, em Psicose, pouco rendeu. Agora surge na batida da decadência apático, num introspeccionisrno que só leva à sensação de desinterêsse.
O desfecho da fita, com pretensões de originalidade closes versus closes de Jill olhando para a cara de Perkins e vice-versa -, nada mais é que um chavão pseudopirandeliano, visando a denotar a inutilidade do crime. Era preciso, mesmo, alguém a·trás da câmara e algo mais à sua frente.
Última Hora
27/01/1972