Carnal Knowledge (que, aqui no Brasil, vai se chamar Ânsia de Amar), depois de uma batalha de cêrca de dois meses. acaba de ser liberado pela Censura. Realmente seria ridículo e desmoralizante: um filme com indicações para o Oscar, em cartaz há mais de um ano nos Estados Unidos, proibido num lance provinciano de vigilância ao véu verde & amarelo da nossa moral. Parece, no entanto, que ocorrerão cortes em cenas referentes àquilo que Adão já havia descoberto desde a chegada de Adão II no Paraíso; os censores ficaram chocados... realmente, deve ser ingrata a solidão de Brasília.
Carnal Knowledge é um filme que nos chega com recordes de renda nos Estados Unidos (que dirá a nossa Censura da falta de pudor do povo norte-americano?): apenas num cinema de Nova York, vendeu mais de 80 mil dólares na primeira semana de exibição. Isto. não é novidade para o diretor Mike Nichols, que já vira o seu The Graduate (A Primeira Noite de um Homem)_ficar logo em posição privilegiada no cordão de $$, puxado por E O Vento Levou e A Noviça Rebelde.
Nichols, 41 anos, nascido em Berlim, chegou ao cinema com o pé direito, pela porta da frente. Depois de uma carreira de prêmios e sucessos no teatro, começou, como cineasta, em 1966, quando filmou a conhecida peça de Edward Albee, Who's Afraid of Virgínia Woolf? (Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), com a dupla Lyz & Burton nos papéis principais. A seguir, veio então o já citado The Graduate, que lhe garantiu um Oscar de melhor diretor. Seu terceiro filme, imediatamente anterior a Carnal Knowledge, chama-se Catch 22 (Ardil 22) e apenas foi apresentado no Rio de Janeiro numa semana de pré-estréias.
Em Carnal Knowledge, Mike Nichols foi produtor e diretor. O roteiro de Jules Feiffer e a fotografia do italiano superexperimentado, Giuseppe Rotunno, são considerados como dois grandes pontos de apoio ao espetáculo. Sem falar no elenco, representado por Candice Bergen, Jack Nicholson, Arthur Garfunkel, Rita Moreno e, especialmente, Ann Margret, que, por interesses da produção, engordou a fim de encher ainda mais os seios.
O entrecho da fita começa na década de 1940 e vem até o momento presente. Tempo mais do que suficiente para baixar a experiência e o "conhecimento carnal." Tempo também da invejável liberdade criativa nos Estados Unidos,
principalmente o cinema, livre do espectro dos códigos de produção. E podendo, naturalmente, realizar essa modalidade de american way of sex ou obsessão sexual do all-American dream boat, segundo classificação do crítico Gordon Gow.
Última Hora
26/02/1972