They Might Be Giants é mais uma adaptação de peça teatral para o cinema cujo autor, James Goldman, também elaborou o roteiro do filme. O argumento, em si, oferece aspectos, senão originais, pelo menos referentes a situações pouco repisadas. Uma psicanalista é convocada a fim de testar um homem a quem logo procura definir como um "paranóico clássico". Ele, depois da morte da esposa, tinha dado uma guinada de personalidade e passara a encarnar a figura de Sherlock Holmes, inclusive nos trajes - sempre atrás de um mistério, de uma pista. De pista em pista, ela vai seguindo o paciente até se enamorar dele e constatar que o mundo talvez seja, nos lances de ambição, violência ou puerilidades, mais doido do que o seu amigo "anormal". Em suma: da sátira ao formalismo da psicanálise, até a crítica a hipocrisia social.
Essa fita é um exemplo bem agudo de como o problema da forma, mal abordado, ou, então, sequer abordado (como ocorre no caso), pode levar o espetáculo à beira da inutilidade. Se a idéia inicial era válida, a sua execução, ou seja, materialização, torna-se praticamente amorfa, em decorrência do lugar comum dos elementos de construção. Ai está a questão do ritmo, do tempo funcional e psicológico da obra. Tudo se desenrola consoante o academicismo literário típico das fitas de linha da década de 1930: o sujeito fala - campo - alguém responde - contracampo; daí por diante, com a opção dos vice-versas entre personagens, que nada acrescentam.
A única coisa a alimentar o interesse pela narrativa cinematográfica constitui a intervenção dos atores, quase todos em nível de respeitável segurança, dando o máximo para empurrar o entrecho.
George C. Scott, no papel do protagonista, está excelente atravessando uma época de Gallup alto, desde que brilhou como Patton e esnobou a estatueta da academia. É acompanhá-lo em cada lance dos acontecimentos para comprovar a invenção histriônica, aliada à classe para enfrentar vários papéis. Joanne Woodward está calejada na modalidade de comportamento que tinha a perfazer - no resto, apenas a incrível falta de encanto atrapalha. Jack Gilford possui uma entrada magnífica, como o bibliotecário Peabody que, tal como Justin vivia Sherlock, desejaria ser o Pimpinela Escarlate (personagem de ficção criado nos livros da Baronesa Orczy, nobre inglês que se especializava em libertar os aristôs franceses perseguidos pelo terror, já vivido no cinema magistralmente por Leslie Howard e, depois, por James Mason).
Muito mais do que James Goldman, no roteiro, o grande responsável pelo fracasso de They Might Be Giants é o diretor Anthony Harvey, incapaz de
qualquer lance de imaginação, de arrojo, conduzindo tudo num blá-blá-blá conformista. As melhores cenas da fita, como a da ida do protagonista à clínica, fazendo falar o paciente ou aquela desenrolada entre as telefonistas não eximem um espetáculo que, se não chega a ser fraco, é inteiramente frustrado.
Última Hora
24/03/1972