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A morte não marca hora

Com poucos minutos de bola em jogo, a guria, em trajes sumários, vem, por detrás de Rod Taylor, dormindo aparentemente, fazer-lhe uns afagos - salto súbito e lépido o dêle, aplicando-lhe um golpe espetacular - quando a reconhece, larga-a e diz: "Não faça isto nunca." Com esta cenachavão que se repete monotonamente ao longo da história do cinema, já se sabe o que é possível esperar dêste filme.
Darker than Amber tinha a pinta de ser uma fita de mistério, ainda mais com o aviso para se chegar no comêço do espetáculo. Nem isso, para satisfazer os entusiastas menos exigentes do gênero. Desde o inicio vêem-se os criminosos - dois psicopatas, brutamontes e, provavelmente, homossexuais. Atiram Susy Kendall dentro d'água, com um enorme pêso, prêso por iscas nas pernas (deliciosas) da mocinha. Mas lá está, canastrão e cara de pau, Rod Taylor (só Hitchcock pôde dar-lhe um mínimo de jeito), a pescar, com o amigo proverbial (Theodore Bickel, a merecer melhor sorte). Rod, incontinenti, mergulha traz a garota para o barco, resfolega. Depois, começa o namoro dentro do iate dele. Rod não queria, mas acaba-se apaixonando. Mas a menina dá-lhe um adeus comovido, vai à cidade e é assassinada, jogada contra um carro em alta velocidade, pelo tarado louro. Desta vez, não houve isca mesmo, porém é uma das poucas sequências válidas.
Rod não se conforma e parte para a forra. Vai brigar, dar e apanhar muito, gastando todos os potes de tinta grená dos estúdios. Tudo isso numa trama mal explicada, mal delineada, extraída de romance homônimo, em inglês, de John D. MacDonald, a envolver roubo e chantagem por conta dos dois referidos anormais, auxiliados por suas iscas louras e femininas. É claro que, no desfêcho, Rod estará novamente no iate espetacular, flanando, já recauchutado dos murros, pauladas e pontapés, lambendo seu uísque
on the rocks, pronto para ser alisado por uma guria igualzinha à primeira, com o amigo Sancho Pança lavando os pratos e soltando gracinhas. E viva o otimismo crônico das realizações no gênero.
Se era um filme rotineiro, enfeitado pelas côres e uma ou outra pitada de situações menos repisadas (aquela, por exemplo, onde o assassino, pistola em punho, obriga o mocinho a cavar sua própria sepultura, às vistas de um cachorro esfomeado), o que também era licito esperar não veio. Ou seja: um mínimo de organização do enrêdo, de tensão nas passagens dramáticas ou de suspense. Nada. Tudo feito às pressas, inclusive a aparição instantânea de Jane Russel, quase em
long-shot, vista a gritar alô de uma outra embarcação. Um abacaxi é um abacaxi é um abacaxi. E não marca hora.

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