Mais uma semana de reprise das operetas da Metro, que fizeram sensação em sua época, estimularam o choro e, agora, como um foco de nostalgia, continuam atraindo público. A vitalidade do espetáculo, na era em que o cinema, como entretenimento, chegava ao apogeu, quando a idéia de "bem" e de "mal" permanecia bem definida ao nível do consumo. Em suma: a atuação do cinema como máquina do tempo a registrar, documentar, para o futuro modalidades de sentimento, de invocação espiritual, difíceis de serem reestruturadas em outros períodos.
E não é apenas isto. O espectador mais atento poderá verificar que existia uma modalidade de cinegrafia, de ritmo, que - embora tachadas com o labéu de ''comercial" - foi justamente aquela que não morreu mantém uma vivacidade, efeitos a dominar com facilidade as realizações da mesma década de 1930, de caráter meramente "conteudístico" (vide Capra & outros).
Já foram exibidos nesta semana: Balalaika, de Rlinbold Schunzel; O Marietta (Naughty Marietta) de W. S. Van Dyke; O Vagalume (The Firefly), de Robert Z. Leonard; A Viúva Alegre (The Merry Widow), de Ernst Lubitsch. Desta vez possivelmente em decorrência do estado da cópia, A Grande Valsa (The Great Waltz) de Julien Duvivier, não acompanha o lote - o que é uma lástima, pois consiste num dos melhores do gênero e com lugar certo na história da sétima-arte.
A Viúva Alegre foi um dos maiores êxitos de Lubitsch na modalidade à lhe dar fama e coroar o famoso touch: a comédia leve, sofisticada, aqui com o grande reforço musical de Franz Lehar e as vozes de Jeanette Mac-Donald e Maurice Cheval!er. Em Balalaika, além do scorem, senso de espetáculo e beleza de Ilona Massey, permanece ainda respeitável o trabalho de dois grandes fotógrafos: Joseph Ruttenberg e Karl Freund.
Ó, Marieta, embora de 1935, conserva uma unidade notável entre a faixa musical, arquitetura visual e vivacidade dos diálogos . E O Vagalume, apesar de tom menor possui inegáveis cenas de brilho e movimento de massa.
Hoje e amanhã, um dos maiores filmes da história do cinema: Primavera, de Robert Ziegler Leonard. Mas adianta pouco mencionar o diretor. O que sobrepaira é o espírito de uma equipe, uma administração. O roteiro, partindo de uma opereta homônina (Maytime), de Sigmund Romberg, optou pela adoção de uma estrutura mais operística e aí, os musicais românticos da década de 1930 encontram o seu ponto máximo. É só sentir o ritmo admirável, vivo até hoje, o extraordinário nível plástico de Oliver T. Marsh. os arrojos de enquadramento e a chamada pureza de sentimentos para constatar o óbvio: Maytime custará bastante a repousar no mesmo museu onde já estão outros clássicos oficiais do cinema.
Última Hora
03/05/1972