Topázio, agora em reprise, é o melhor filme da fase final de Hitchcock, o maior representante do gênero por excelência no cinema, que é o thriller, e não o western. Não só o magister das soluções técnicas, não só o estilo inconfundível, mas o desencadeador de idéias e sugestões sem qualquer apelo que a câmara não posso atender.
Literalmente falando, o filme pode ser classificado no gênero espionagem, onde Hitch já havia, várias vezes, se exercitado. Basta lembrar as duas versões de O Homem que Sabia Demais, Sabotagem, O Agente Secreto, Correspondente Estrangeiro ou Intriga Internacional. Mas, talvez, Topázio supere a todos. Não tem, até certo ponto, uma preocupação com o desenvolvimento espetacular do entrecho, inclusive com os lances de sensação tão típicos do cineasta. Inexiste um crescendo dramático permanente, mas, há sim, na fluência do texto fílmico, uma idéia que se amplia e ganha contornos: a miserabilidade do mundo político, a imoralidade dos meios que transformam o exercício do Poder numa cadeia incessante de atos desumanos. Chega-se a isso mediante o decalque do universo da espionagem, com a sua bolsa de informações e contra-informações a partir da adaptação de um romance de Leon Uris.
Aqui, não há o espetáculo bondiano. Há o convite a análise. Hitch expõe os fatos, desenlaça as seqüências e lega o restante à inteligência. Assim, trata-se de uma fita diferente da grande maioria das outras que fez. Não tem trechos antológicos, mas é, em si, a própria antologia do savoir faire. O elenco internacional – muito bem dirigido – mostra-nos um Frederick Stafford metálico, intencionalmente inespressivo, e Dany Robin e Karin Dor, bonitas como nunca.
Jornal do Brasil
09/06/1978