O título do filme pode dar a idéia de que se trata especificamente do nosso futebol na atualidade. Mas não é isso. Antes de atingir as perplexidades do presente, há uma longa retrospectiva a partir da primeira conquista da Copa, em 1958. Então, até os limites da exaustão, passam a ser focalizados os gols, as jogadas sensacionais dos grandes craques, como Pelé, Mané e Tostão. Graças à montagem e ao objetivo de selecionar os momentos luminosos, surge o saudosismo diante de um time de hoje ainda indefinido e ameaçado de contar com a participação de preciosidades como Abel ou Chicão, Paulo César e Marinho ficaram fora do palco e Nelinho só entrou graças ao acaso de uma confusão do sadio Zé Maria.
Enfim, temos mais um Canal 100 em longa-metragem. Uma espécie de Canal 1000. Ninguém poderá colocar em dúvida a competência da equipe de Carlos Niemayer – seja em matéria de fotografia, mixagem, montagem e aquele ritmo que procura propiciar o transe, a sensação coletiva do futebol (que, no Brasil, é assunto já de segurança nacional ou de especulações psicossociais).
O esquema do documentário é mais do que conhecido. Entremeados com as cenas dentro do campo – gols, abraços, dribles, fouls, reclamações do juiz, o banco se agitando – surgem depoimentos de populares, de jogadores, como Zico, Reinaldo, Amaral, etc., e de especialistas, como João Saldanha, Zagalo, José Inácio Werneck, Sérgio Noronha e, last but not leat, Cláudio Coutinho, afinal de contas o homem que monta e rege o carrossel caboclo. Em dado momento, aparece também, indefectivelmente, o Sr Heleno Nunes, e o público – agora não o da arquibancada, mas o do cinema – prorrompe em vaias. Ora, já que havia tanto gol e o futebol era retrospectivo, poderiam tê-lo substituído por Heleno Freitas. Para quem é aficionado de futebol, o filme talvez se mostre esfuziante, porém redundante – a maioria das cenas já foi servida várias vezes nos estádios, no cinema ou na TV. Para quem não acompanha, o assunto há de ser instrutivo, e divertido até certo ponto.
Jornal do Brasil
02/06/1978