Um concurso cinematográfico para escolher o rival de Rodolfo Valentino. E, entre os candidatos, está Gene Wilder. É o cinema o ganhador. Estamos diante de um dos filmes mais hilariantes da última safra, onde tudo é savoir faire, tem o toque do Gene (quase gênio). A comédia de Hollywood está voltando a reviver aquela grande fase do Sennett.
E Gene faz quase tudo: é produtor, diretor, ator, escritor e autor de uma canção original: Ain't It Kind of Wonderful. Com,o ator, com àquele rosto de um Alberto Sordi mais discreto, a gesticulação bizarra, dá a medida adequada ao ritual do riso. Como diretor, demonstra uma noção de ritmo admirável, a fim de criar um tempo de comédia. Ou seja: o espectador ri praticamente a cada minuto.
Desde o início com o tango a la Valentino, até o desfecho, com o xeique (o Sheik ou o Filho do Sheik?), a cavalo, apostando corrida com o trem para recuperar a mulher amada, sucedem-se as sequências ou detalhes de humor. Aliás, mencionando isso, vale a citação de Federico Fellini a quem o próprio diretor agradece nos créditos - o Fellini do primeiro grand· filme, O Xeique Branco, onde, por coincidência ou não, Alberto Sordi fazia o papel-título.
Cenas, como a do maitre que estala os dedos, em lance típico, e o restaurante sofre uma imundação, do crooner da orquestra, de voz suave, cantando com alto-falante, ou da visita da família ao quarto transformado em piscina, são inesquecíveis. E ali, como antes, brilha Fritz Feld, como o gerente do hotel Carol Kane completa muito bem a faixa lírica.
A estilização da época Valentino merece também registro. Não só os personagens, mas os objetos estão carregados de significação. E Gene Wilder - na inversão do célebre poema de uma só palavra de Oswald de Andrade - mostra que o humor pode estar impregnado de amor.

Jornal do Brasil
07/07/1978