A tela de cine Ricamar continua ceifando um pouco os crânios e achatando os personagens. Mas o que nela acontece, nessa semana, não merece maiores cuidados. A história seria uma espécie de pornô-moralismo ou pornô-misticismo.
Uma jovem é abandonada pelo namorado, filho de pais ricos, depois da famosa (e aqui grotesca) cena de sedução. Dedica-se o resto da vida a perseguir os homens que praticam bacanais e adultério. Para isso, além do inevitável relacionamento lésbico junto a uma gorducha, transforma-se numa espécie de vidente que descobriu o processo de levitação. Moças, com cabeça de pomba e corpo todo tatuado, voam e caem de porrete na turma da farra. No final, já velhusca, encontra o antigo namorado, agora embaixador, e tudo acaba bem. Coitado do Itamarati.
Que dizer desse filme como substrato cultural do apelo ao lucro fácil? Parece-me que nem a Embrafilme acreditou. A cinegrafia é primária. As seqüências de bacanal são ridículas, assim como as posturas dos participantes, como se fossem todos marinheiros de primeira viagem. As atrizes, pela aparência, devem ter sido requisitadas aos inferninhos paulistas do segundo escalão, pois, pelo que mostram, o seu cachet não pode ser dos mais altos. Mesmo assim – se for o caso – a sua participação nesta produção (?) deve ter dado prejuízo. Quanto à Sra Rossangela Maldonado, é um exemplo de polivalência: produz, dirige, interpreta, escreve, faz direção artística, etc. Enfim, como já disse alguém, cultura é tudo...
Jornal do Brasil
01/09/1978