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2001: reflexões

A entrevista que Stanley Kubrick deu à revista Playboy, a propósito da sua Odisséia no Espaço e problemas científico-filosóficos decorrentes, denota o quanto estava preparado para realizar aquela fita - possivelmente a maior obra de tôda a história do cinema. Kubrick aborda, com um mínimo de conhecimento de causa, assuntos que vão desde a comunicação não-verbal até o código genético. Para tanto, ficou quase cinco anos estudando, informando-se e preparando aquêle ato epistemológico sôbre 2001 que se cunha concretamente no próprio espetáculo motovisual que é a essência do cinema.
Uma Odisséia no Espaço (que, agora, vai se mudar para o cinema Vitória, em projeção de 70 milímetros) redimensiona os_próprios conceitos e metas do filme em si. Para isso, sempre funcionaram os filmes-chave da história, como Intolerância, Caligari, Potenkim, Kane, L' Âge D'Or, Umberto D, Lola Montés, Marienbad ou a obra de Godard, em autodialética permanente. Existem várias consequências desfechadas por Kubrick: balizado definitivo do cinerama, através do seu poderio de informação estética e reafirmação do cinema como criação ao nível industrial; abertura filosófica ao nível do consumo, colocando as massas diante do acesso a problemas que só a especialização técnico-filosófica e o alcance intelectual de uma minoria é capaz de discernir; liquidação do preconceito artesanal contra o filme e de, dentro disso, julgar-se que o ato de reflexão, na tela, só consegue verificar-se com a superação da técnica pelo despojamento da interiorização, seja à la Bresson, Godard & outros. Esta só se verificará com o condicionamento sine qua non da invenção, cf. Godard.
O que 2001 oferece em matéria de elementos, como o décor, desenho de produção, uso da côr, os silêncios notáveis e os acompanhamentos musicais, onde se sobreleva O Danúbio Azul, refere-se de imediato ao binômio criação + administração. E faz com que o gênero science-fiction promova o seu verdadeiro vôo espacial na esfera da imaginação e da profundidade. O anedótico foi reduzido ao essencial, em função da parábola geral, onde entram conotações, não só das previsões científicas, mas também do conceito de Deus, da linguagem, da responsabilidade do homem em sua projeção para dentro e para fora ou de uma espécie de meta-linguagem geral do cosmos. Enfim, o filme também voltado para si e como procura daquilo que o move, quando, ao final, em traveling rapidíssimo, a câmara avança sôbre o monolito e êste se alarga à forma cinerâmica.
Qualquer obra que instiga, devido à sua capacidade de renovação, provoca a espécie de efeitos de 2001: perplexidade do público que, no entanto, imantado pelo debate e pela superestrutura do espetáculo puro, vai maciçamente a êle assistir; divisão da crítica em dois campos, o pró e o contra. A unanimidade da crítica, em primeira instância, sempre denota o filme de mestre (não de inventor), "o aquilo que já foi feito antes" e fica depurado pela percepção de uma maioria. O realmente nôvo, ao contrário, sempre suscita a polêmica.

Correio da Manhã
13/09/1968

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
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Ingmar Berman na comédia
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