As realizações dos Festivais Internacionais do Filme, aqui na Guanabara, são da maior importância, não só sob o aspecto turístico e mundano, mas também em matéria de intercâmbio cultural. A FIAF oficializou o nosso festival, que deve se verificar permanentemente, de dois em dois anos, alternando-se com o de Mar del Plata. Mais ainda: em sua nova política em relação às mostras cinematográficas, consta ser pensamento da FIAF reduzir o número de festivais, concentrando-se apenas na oficialização de três ou quatro, que seriam o de Cannes, o do Rio de Janeiro ou um outro na Asia, possivelmente na Índia. A preferência dada à nossa cidade baseia-se, inclusive, no interêsse de cineastas, produtores, atôres, técnicos em virem ao Brasil.
Os dois festivais já aqui realizados, em 1965 e 1969, cercaram-se do melhor êxito, quaisquer que sejam as críticas justificáveis em tôrno de sua organização. Filmes da maior importância foram exibidos, dentro ou fora de competição, grandes personalidades do cinema estiveram presentes, formaram-se júris altamente respeitáveis e categorizados. Ganhou o nosso cinema com os contatos, ganhou o turismo (e o turismo, no Brasil, além de exceções como o FIF e o FIC, ainda é utopia) com a atração de um público interno e extemo. Basta verificar o noticiário farto, que jornais e revistas davam ao assunto.
Foi por causa disso que, tanto o Govêrno federal, como o da Guanabara, êste na época, resolveram endossar o compromisso internacional de se realizar o festival regularmente aqui no Rio. Foi também por causa disso que o ministro da Educação já assinou o convênio, firmado com o govêrno estadual, que garante as verbas necessárias à organização do próximo FIF. E já assinou há muito tempo. Mas chegou a hora e vez das inércias ocultas: enquanto o Govêrno federal prestigia o FIF, a outra parte reluta em cumprir o acôrdo. Por quê? Mistério. Mas, enquanto perdura o mistério, aproxima-se março de 1971, data do 3º festival, e o tempo vai ficando exíguo para realizá-lo. Já estão alugadas as salas para a administração do FIF, mas como contratar funcionários, pedir filmes, escalar jurados, convidar personalidades, nas trevas da incerteza? Com que roupa? Começa, assim, a se delinear o retrato do descaso.
Pior ainda: o único caminho que restará à FIAF, diante do não cumprimento do compromisso, será o de liquidar com o festival no Brasil. Então, menos turismo, menos cultura, menos prestígio ao Rio de Janeiro e, Iast but not least, ao Instituto Nacional do Cinema. E logo num momento em que as autoridades brasileiras estão preocupadas com a imagem do País no exterior.
O FIF estava programado, suas verbas previstas. Não foi surprêsa como o foi o incêndio do Maracanãzinho, quando, louvavelmente, brotaram logo os recursos para reconstrui-lo e garantir a execução do Festival da Cancão. E se a música é arte o cinema também é. Por que a discriminação?
Correio da Manhã
02/09/1970