A realização do terceiro Festival Internacional do Filme, marcada para o mês de março do próximo ano, é de capital importância para a consolidação do Rio de Janeiro como sede oficialmente reconhecida pela FIAPF de concentração anual de boa parte do mundo cinematográfico.
A consolidação do festival, como evento permanente no Rio de Janeiro, seja de ano em ano, como se projeta, ou de dois em dois anos, como ficou por enquanto estipulado, é da máxima importância para uma Cidade-Estado que, de um lado, já assiste à evasão de recursos econômicos, e, de outro, também começa a sofrer com a evasão de estímulos culturais. E um festival dessa natureza, note-se, não representa apenas cultura, diversão e intercâmbio entre atôres, técnicos e produtores, mas, em paralelo, traduz um investimento de alcance econômico-financeiro a médio prazo, dado o seu inobjetável caráter turístico-mundano. Aliás, é bom lembrar que diretores, atôres, críticos e outras personalidades famosas do mundo do cinema tiveram o maior interêsse em vir ao Rio, por ocasião dos dois outros festivais, bem como vários dêles já aceitaram convite de Moniz Viana para comparecer no ano próximo.
Frise-se, por isso, que, ao contrário do ponto devista de uma minoria, inexiste o menor interêsse em transformar o FIF num encontro de apenas cineastas novos, de filmes marginais, emulações de boa ou má vanguarda, pois o terreno de turismo e finanças tem de ser encarado. Num país onde o turismo, interno ou externo, ainda é quase uma utopia, a oportunidade não pode ser atirada pela janela - o público tem de ser motivado. E ai é que entrará em cena o aspecto cultural, com mais um ensejo para êle assistir à competição entre os grandes filmes, ver retrospectivas de grandes criadores, e, em suma, participar mais diretamente de um processo que, aqui no Brasil, ainda fica, de um modo geral, reservado a especialistas ou gáudio de alguns diletantes.
Foi êsse o, efeito benéfico dos outros festivais internacionais aqui levados a cabo. E foi também, tomando em consideração tais fatôres, que, há muito, o ministro da Educação e Cultura assinou o convênio com o Govêrno do Estado da Guanabara, assegurando as verbas federais para o III Festival Internacional do Filme, cuja concretização está, agora, nas mãos do presidente do Instituto Nacional do Cinema.
Correio da Manhã
01/12/1970