Questi Fantasmi, baseada em peça teatral homônima de Eduardo De Filippo, também ator e diretor no cinema, deve ser - e, de longe - a pior realização na carreira de Renato Castellani, o cineasta que concretizou alguns dos clássicos do neo-realismo italiano (basta lembrar o excelente E Primavera), e que, mesmo antes dessa fase, já se projetara como bom regista.
Sem dúvida, o público está diante de um simples empreendimento comercial, dotado de vários ingredientes técnicos de luxo. Além disso, um filme protagonizado por Sophia Loren e Vittorio Gassman (e produzido pelo marido da primeira, Carlo Ponti) – dois nomes de enorme atração para bilheteria. Mas o que se esperava, assim - e, no mínimo - seria a diversão agradável, descompromissada.
O chute é colossal. Ponti não gastou muito para amparar o espetáculo. O entrecho é pobre de imaginação e cheio de lugares comuns, somados a tiques de atôres, no gênero assombração cômica, coisas que já se viu no cinema americano de segunda classe no decênio de 1930. Vittorio Gassman está quase ridículo, sem - por paradoxo - sequer comunicar eficazmente a dose de ridículo do seu personagem. Sophia inexpressiva, alheia, como se estivesse inteiramente distante do filine que se rodava.
Enfim, a direção de Castellani permanece inteiramente apática, sem qualquer esmiuçar mais pessoal, qualquer interêsse em dar rendimento dinâmico ao plot. As cenas arrastam-se, o falatório à italiana dos atôres chega a ser insuportável. Tudo se encerra na blague e duas ou três risadinhas arrancadas dos espectadores em mais de 90 minutos de projeção constituem escassíssima compensação para o marasmo.
Notas & Notícias
• Ninguém entende porque, até agora, mofam nas prateleiras das exibidoras filmes como Julieta dos Espíritos, de Fellini, ou O Desprêzo; de Jean-Luc Godard,
enquanto continua o desfile de abacaxis.
• Ninguém também entende a pressa de funcionários de salas de projeção, como no Condor do Largo do Machado, em abrirem portas e luzes antes que as fitas acabem, prejudicando a exibição, como no caso do último episódio de Histórias Extraordinárias, onde, à imagem felliniana, sobrepõe-se um quadrado, com silhuetas de algumas pessoas atravessando a porta de saída. O público pagante tem seus direitos e dispensa a "contribuição" gratuita e espontânea de superposições extracinematográficas.
Correio da Manhã
08/04/1969