Kare John é baseado num romance de Olle Lansberg, que chamou a atenção devido ao realismo na descrição das relações sexuais entre os protagonistas - fator até certo ponto secundário, depois da imensa divulgação da obra de um Lawrence, um Henry Miller e outros experts. Miller, por exemplo, depois do escândalo e das edições clandestinas e semiclandestinas é, hoje, leitura recreativa das estudantes e mocinhas casadoiras.
Talvez seja até por isso que Lars-Magnus Lindgren (que estêve aqui, há pouco, como membro do júri internacional de longametragem do II FIF), além de diretor, responsável pelo roteiro e pelos diálogos, haja tentado poetizar um pouco as situações, embora com o sexo, intenso, sempre presente, não tanto pelas cenas de nudismo, praticamente escassas, mas através dos gestos, da atmosfera. E, com tudo isso, realizo uma fita de concentração, de minúcias, de estudo do comportmento, algo acadêmica no trato e na apresentação dos atôres, algo pretensiosa na estruturaçao.
Temos, aqui, intencionalmente, e na base de fluxos e refluxos da continuidade da história, uma elaboração geométrica para a apresentação do te!npo anedótico. Entrou em cena um elemento caro, não só a lngmar Bergman, mas à maioria dos cineastas suecos: o flash-back. A fita inicia-se simultâneamertte em dois pontos localizados com bastante distância entre si, dentro da linha anedótica. Um dêles começa por captar os amantes na cama e vem marchando para trás, em flashes-backs. O outro começa com a chegada do navio e vem marchando para adiante, sempre intercalado com o outro. Um engenhoso quebra-cabeças para a cronologia, embora esteja longe de ser novidade a grosso modo: além de Bergman, homens como Kubrick (O Grande Golpe), ou Ophüls (Lola Montés) já esgotaram as experiências, sem falar em Alain Resnais, que com clássicos do cinema, como Hiroshima Mon Amour ou Marienbad, quebrou com a própria fragmentação do logicismo que alimentava o princípio tradicional de uso do flash-back.
Em dado momento, neste filme sueco, ambos os movimentos, um para o futuro, outro para o passado, se cruzam e, então, o primeiro dispara autônomo, salpicado de ligeiros retornos, que já náo são mais flashesback e, sim, repetição em função da memória. E há um desfecho feliz. Sôbre uma fita bastante razoável - embora, em sua intenção de "seriedade”, parecendo algo desnecessária dentro do panorama atual do cinema - resta mencionar as interpretações ótimas de Christina Shollin e de Jarl Külle (o oficial de Sorrisos de Uma Noite de Amor, de Bergman).
Correio da Manhã
03/05/1969