Não é de estranhar o sucesso de público que- vem obtendo Os Paqueras. Assim como no caso recente de Copacabana Me Engana, trata-se do exemplo típico de filme que caracteriza a eficácia de uma linha de produção - o feijão-com-arroz do cine-espetáculo que pode permitir a tônica essencial de maior comunicabilidade de nossas realizações com as platéias.
É exatamente sob o ângulo administrativo que, de saída, se torna válido vislumbrar o suporte para o êxito: Um filme leve, escorreito, vazado em boa sintaxe, bem fotografado em côres, apesar de alguns defeitos da cópia, e cujos ingredientes comuns no gênero - mulheres bonitas (despidas ou semidespidlas), hilaridade, movimentação - jamais tombam no inócuo ou na banalidade. Até a dublagem, que ainda é, sob o prisma técnico, o ponto mais vulnerável do cinema brasileiro, permanece em nível bastante satisfatório. Enfim, Os Paqueras talvez seja a melhor comédia nacional filmarda nestes últimos anos.
A paqueragem se constitui numa tradição bem carioca - o machismo geralmente motorizado, pronto para fazer a caça propícia ao esporte do amor. Audácia, boa pinta, boa cantada, um carro e uma cama - aí estão os ingredientes do jôgo. Aqui, são dois sujeitos, um jovem (Reginaldo Farias) e um outro de meia-idade (Walter Forster), no azáfama diurturno em volta do mulherio. As situações são variadas, complicadas, algumas realmente engraçadas e muito bem dirigidas ou montadas, mormente aquela, influênciada por Blow-Up, com os dois em tôrno da garôta de televisão, no estúdio, fazendo pulular as tomadas fotográficas, coadunada com o corte rápido, para terminar tudo com os três debaixo dos lençóis. Outra sequência bastante cômica é o episódio com Darlene Glória, quando o marido que ir ao banheiro onde Reginaldo está escondido e ela, para distraí-lo, vai tirando a sua roupa e a dêle.
Reginaldo Farias, além de intérprete, dirige a fita, ganhando o mérito pelo ritmo ágil e de manter o interêsse aceso por quase t.ôdas as cenas. Como ator, faz boa figura, bem convincente, assim como Walter Forster. Ambos evidenciam um estar desembaraçado, hollywoodiano, setrn aquêles trejeitos subnutridos de protagonistas de outros filmes nacionais no gênero. Irene Stefania, bem fotografada, segue a toada, Adriana Prieto é uma boa surprêsa, Fregolente dá a sua nata histriônica e, em rápida aparição, José Lewgoy valoriza extremamente o episódio do marido que queria "flagrar" a mulher (Sônia Dutra). Não sendo um filme importante, Os Paqueras, no entanto, contribui para aquela idéia de cinema de base que permite o salto futuro para as grandes criações industriais.
Correio da Manhã
15/04/1969