De uns tempos para cá, desde que até a própria estética, influenciada pelas teorias de informação e meios de comunicação de massa, passou a dar importância às histórias em quadrinhos (os comics), o cinema resolveu voltar-se com mais seriedade para o gênero. Aliás, quase que em paralelo, alguns criticas e ensaístas começaram a manifestar o seu saudosismo pela "pureza" primitiva das fitas em série, que pulularam nos decênios de 1920 e 1930. No atual decênio, iniciou-se então, não mais como produções B, a série de ressurreições ou adaptações no gênero, rodadas em côres, com décors luxuosos e arrojados. E, assim, não foi também de surpreender o interêsse de diretores mais cotados em apresentar suas versões, bastando lembrar os exemplos recentes de Joseph Losey (Modesty Blaise), ou Reger Vadim (Barbarella), sem falar nas pretensões de Alain Resnais, até agora não concretizadas, de realizar As Aventuras de Nick Carter. E, hoje em dia, quando as censuras e os códigos de produção ficaram, apesar de tudo, menos sebosos e intolerantes, essas aventuras, a serviço do espetáculo, recebem o sôpro arejado, amoral, do paganismo sadio.
Danger: Diabolik encaixa-se na série. Trata-se de uma produção de Dine de Laurentis, razoavelmente cuidada e requintada, embora algo displicente no acabamento dos detalhes. Diabolik é o inimigo da ordem e da sociedade. Roubar e desafiar as autoridades representam coisas similares ao arroubo desportivo. Absorveu tôdas as técnicas e parafernálias do mundo eletrônico e atômico, uma espécie de 007 às inversas, isto é, contra o establisment. Para interpretá-lo, não era preciso capacidade de ator e ai aparece mesmo John Phillip Law (o anjo de Barbarella). Mas, para surgir como a sua companheira de amor e de façanhas, era necessário, de fato, algo tão instigante como Marisa Mell, uma das melhores invenções femininas do cinema nos últimos anos. Especialmente com as roupas mínimas, sofisticadas, bem estilizadas, torna-se esfusiante a sua presença. A câmara, amiúde, tateia a sua pele; vale relembrar a melhor sequência da fita, quando ela e êle, nus, estão se amando sôbre o imenso leito giratório, sob as milhares de notas furtadas ao banco.
O diretor Mário Bava, que já foi melhor na Máscara do Demônio, dentro do gênero horror, constrói bem uma ou outra cena, mas não realiza tudo o que se poderia esperar dessa produção. Limitou-se a dar o tom do divertissement e a extrair um ou outro efeito dos décors arrojados que caracterizam o refúgio de Diabolik. Sob êsse ângulo, o filme decepciona, mas não deixa, de qualquer forma, de ser uma recreação agradável.
Correio da Manhã
18/04/1969