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Repulsa ao sexo

Repulsion é o primeiro filme em inglês de Roman Polanski - e também o primeiro filme seu a despertar com mais intensidade a crítica mundial. Alguns observadores compararam o cineasta polonês com Hitchcock e, com relação a uma fita fabulosa, como é o Psicose, chegaram a alegar a superioridade de Repulsion. Uma ligeira aberração.
Desnecessários tantos exageros para demonstrar os méritos de Polanski e do seu filme. E o que existe nêle de influência hitchcockiana está mais presente numa realização como
Rosemary's Baby, do que, a rigor, em Repulsion. A comparação com Psicose apenas procede dentro de uma generalização temática vinculada à psicologia, pois, enquanto Hitch fêz o seu thriller quase fantástico, o polonês optou, no caso dêste seu filme, para o tratamento documental ou, talvez melhor dizendo, ficção documentária.
Desde a partir do roteiro, de sua autoria, juntamente com Gerard Brach, Polanski já partia para o objetivo frio e esmiuçante, apenas salpicado com ligeiros elementos do thriller e algumas imagens inspiradas no surrealismo (exemplo, as mãos que tateiam a protagonista no corredor) - fato aliás natural, pois, sem Freud ou a psicanálise, o surrealismo teria sido outra coisa. O que se pretendeu foi, justamente, a partir de um entrecho fictício, documentar o comportamento de um personagem esquizóide e a sua degenerescência afetiva, a auto-repressão sexual, que gera a crise de comunicabilidade com o meio ambiente.
Na primeira parte da fita, Polanski arma e equaciona o entrecho e os recursos do leit-motiv: apresenta a manicure dentro de casa, em seus conflitos com a irmã, e o amante desta, no local de trabalho, o salão de beleza, onde a sua fuga à realidade assume traços mais concretos, e, em duas cenas, no relacionamento com o rapaz apaixonado por ela. Depois; tôda a segunda parte fica cingida ao esmiuçar da alucinação psíquica da môça, encerrada no apartamento, no delírio aterrorizado, onde cada objeto ganha, para ela, uma carga simbólica: as rachaduras na parede, a carne de coelho sôbre a travessa, já em putrefação, a navalha, os sapatos. No ápice da insanidade, ela então matará com violência o namorado e, posteriormente, o locador que tentaria aproveitar-se de sua situação aparentemente indefesa.
É nesse sentido q,ue se pode dizer que Polanski, com certo brilho, chegou a algo de quase inédito, ou seja, o horror psicológico, num filme bem realizado, embora sem grandes lances (talvez a melhor coisa sejam os acordes de Chico Hamilton, quando o diretor foca, de perfil e quase em close-up, a manicure andando pela rua). Além disso, notável a interpretação de Catherine Déneuve, suporte essencial de uma fita dificil.

Correio da Manhã
17/04/1969

 
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Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

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Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

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Jornal do Brasil 07/04/1957

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