Na época atual, mormente após o avanço no estudo dos fenômenos paranormais e, mesmo, a denominação de uma nova ciência, a parapsicologia, é grande o incremento do interêsse em tôdas as ramificações correlatas: magia, feitiçaria, alquimia, esoterismo, cartomâneia, ocultismo, hipnotismo, telepatia etc. Até porque, apesar do desenvolvimento crescente da ciência, em lugar de cessar, multiplicam-se os fenômenos por todos os lados, desde os discos voadores até Zé Arigó. Não é à toa, portanto, o sucesso de um livro como Le Matin des Magiciens, de Pauwels e Bergier, ou as mais recentes interpretações no jôgo do baralho tarot, aliás uma das chaves simbológicas de um poema tão importante como The Waste Land, de T. S. Eliot.
O cinema, naturalmente, começa a voltar-se sôbre essa temática do infra-real, até porque as viagens espaciais, com o seu raio de ação crescendo colossalmente, ameaçam-nos com aquilo que se convencionou chamar de "choque cultural". Daí Uma Odisséia no Espaço. Daí também, numa área diversa, mas não menos interessante, êsse The Magus. O problema, todavia, é que o argumento e o roteiro de John Fowles, algo confuso, desconcentrado, como uma babel de elementos aparentemente heterogéneos, exigiria, para que algo obtivesse consistência, um ritmo e uma dinâmica de espetáculo para os quais não seria um diretor de hábitos tão lineares, como Guy Green, o homem indicado.
Mas o que existe de feira de amostras descozida, dentro dessa fita, não se limitou ao roteiro. O próprio elenco, envolvendo vários atôres de cartaz, obrigados, alguns dêles, a uma superposição de comportamentos distintos, aumenta a confusão. E o efeito é catastrófico nesse ponto: Anthony Quinn, repetindo-se, intolerável, sem conferir a mínima aura de mistério ao seu tipo, permanece zorbeando diante das câmaras; Michael Calne, a inexpressividade em pessoa, fica sempre com o ar entre abobalhado e enfurecido, diante dos acontecimentos misteriosos que o cercam; Ana Karina, a grande intérprete de Jean-Luc Gordard ou de outras realizações francesas, surge num papel algo marginal, a que nada tem a dar, a não ser despir-se em duas cenas; Candice Bergen é a figura mais etérea, estimulante, convincente, no meio da trama, mesmo assim, dispersa no vaivém do personagem polumetis.
The Magus pode manter o interêsse da platéill. Devido a algumas cenas instigantes e à curiosidade pelo desfecho, após uma vã pirotécnica de flashes-back e de situações insólitas. Porém se consiste num fracasso, como obra em si, tomada em têrmos estruturais.
Correio da Manhã
23/04/1969