A adaptação do conto de Robert Sheckley, em que se basearam os produtores de La Decima Vittima, transcorre no século XXI. As guerras foram banidas e, assim, o esporte individual de matar foi instituído como um jôgo, extremamente regulamentado, onde as pessoas ou são caçadoras, ou vítimas. Dêsse modo, não só o tédio, mas as inclinações pela violência de muitas pessoas ganhariam um meio de aplicação.
É assim que Polletti (Mastroiani) e Caroline (Ursula) se defrontam, êle, a "vítima” ela, a "caçadora", já prestes, caso liquide o rapaz, a obter o título de Decaton (por ter matado dez pessoas) e o prêmio de um milhão de dólares,
Tudo isso poderia conduzir à inferição de que se tratava de uma antevisão mecanocômica ou eletrocrítica de um mundo futuro, cujo esfôrço físico e mental é dominado pela máquina, deixando os sêres humanos entregues à sorte de crianças, sem ensejo do culto à responsabilidade, oscilando entre o lazer mais imediato e inconsequente e o tédio inevitável. Daí, o esporte da morte. Mas cessam aí as especulações a respeito do rendimento dêsse entrecho, produzido por Carlo Ponti. Acreditamos que, apesar da carência de situções instigantes na história, outro fôsse o espírito de uma equipe, outro o diretor, talvez o espetáculo rendesse mais - quer dizer, estávamos falando no cinema americano, onde, certamente, o aproveitamento dos ingredientes, vinculados ao argumento, seria melhor, bastando um diretor de segundo time. Aqui, a coisa se esboroa.
A Décima Vítima, não seria, a rigor, um science-fiction, apesar da autoria de Sheckley. Falta-lhe a parafernália, a imaginação, o teor fantástico. Existe tão-somente a convenção de estarmos no século XXI, sob comportamento idêntico ao da época atual, sem qualquer grau de aceitabilidade das falas e situações, mesmo em têrmos satíricos ou alegóricos. O diretor Elio Petri perdeu o pulso e fêz a sua pior fita. O ritmo chega quase a ser monótono, a fotografia (apesar de ser Gianni di Venanzo o camera-man) é completamente neutra e até inócua, com côres mortas inexpressivas, os trajes, entre o mau gôsto e o ridículo – em suma, um espetáculo de displicência, onde o cineasta jamais consegue encontrar o tom adequado.
Restaria falar em Ursula Andress, a nota sempre agradável e que - apesar de já ter a sua nudez dissecada em côres, em todos os ângulos, em revistas, como Playboy, Lui, etc. - infalivelmente alivia os espectadores das agruras dos abacaxis aos quais enfeita.
Correio da Manhã
25/04/1969