jlg
cinema

  rj  
Copacabana Me Engana

Um filme escorreito, até certo ponto despretensioso, Copacabana Me Engana representa, em parte, aquilo que o cinema brasileiro, no atual impasse, necessita como o feijão com arroz de uma linha de produção, que estabeleça o diálogo com o público. Isto constitui uma das prioridades de uma forma de criação industrial, como é o cinema, que nada tem a ver com “arte" no sentido clássico ou acadêmico atualmente utilizado, que nada tem a ver com a "execução" (teatro, dança ou música) ou o corpo-a-corpo artesanal com a obra em si.
O argumento - baseado no enfoque sôbre um dos aspectos do mundo de Copacabana, aliás o bairro mais cosmopolita do Brasil e, socialmente, um dos mais ecléticos - torna-se concretizado pela direção, mediante uma linguagem direta, sem elipses ou grandes efeitos visuais. A montagem tende a propiciar uma continuidade linear, até certo ponto funcional em relação às intenções descritivas do entrecho. E a direção intensificou o seu trabalho sôbre o comportamento dos atôres - no caso, um fator importante - com um resultado apreciável em nosso meio. Ninguém está ridículo, é raro o artificialismo dos intérpretes.
Uma família burguesa, classe média, típica. O pai, compreensivo e perplexo ao mesmo tempo; a mãe, dedicada e chata. Dois filhos, um dêles entregue à disciplina do trabalho, o outro, uma espécie de playboy bonitão e semi-abobalhado. O mundo da "curriola", do grupinho de meninões, entregues à bagunça, ao batepapo, às farrinhas e à abordagem às mulheres. São quase (como aquêles magistralmente retratados por Fellini) os Vitelloni da Zona Sul. Então surge a balzaquiana atraente, vizinha do bonitão, que lhe dá bola e enfurna-o em sua vida. A mulher-fossa, com Odete Lara, talvez em sua melhor aparição no cinema. O meninão, que ela ornamenta de pareô e flôres na cabeça, constitui o hiato intencional da solicitação neurótica: um pajem para todo serviço.
Um fator válido no enfoque dado pelo diretor, Antônio Carlos Fontoura, é que jamais êle ataca o problema com um preconceito intelectualista. Tôda essa fauna é humana e, por isso mesmo, respeitável. É também por isso mesmo inexiste desprêzo de quem constata, nem interêsse em dar uma lição de ética. A fila não é cansativa, mantém-se viva de ponta a ponta; em deteminados trechos, oscila entre o patético e o hilariante com boa dose de naturalidade. Daí. A comunicação com o público, em especial aquele dos próprios cinemas da Zona Sul.
O cinema brasileiro, como qualquer outro (mas, por enquanto - e evidentemente - com menor intensidade) tem os seus lampejos maiores, como, agora, por exemplo, através de O Bandido da Luz vermelha ou O Estranho Mundo de Zé do Caixão (êste último levado em consideração antes do estraçalhamento praticado pela Censura). Necessita, entretanto - e talvez mais do que nunca -, encontrar o seu fluxo natural de diálogo com o público a fim de que os lampejos sejam até melhor compreendidos. Copacabana Me Engana contribui para êsse diálogo, dentro daquele equilíbrio de concepção que não traduz forçosamente qualquer concessão maior de ordem comercialista ou sensacionalista.

Correio da Manhã
18/03/1969

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

562 registros
 
|< <<   1  2  3   >> >|