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O Estranho Mundo de Zé do Caixão

Assistimos em versão integral, antes dos cortes, a êste último filme de José Mojica Marins, que, posteriormente, foi quase arrasado pela Censura. Parece que não ficou sequência sôbre sequência, shot sôbre shot. Lamentável porque José Mojica - sem dúvida, um dos melhores cineastas brasileiros e um dos poucos que, ao nível internacional, inova no gênero horror - só pode ser assimilado em seu mundo extravagante através de tudo que compõe em matéria erótica, primitiva, fescenina, escatológica, sádica. Sem isso, ou seja, forjar a sua aproximação do bom comportamento, mediante a tesoura, perde êle grande parte da fôrça expressiva. Deveria ser facultado que pelo menos os cinemas de arte exibissem os filmes sem estar mutilados - o que, aliás, constava do projeto de lei referente à reformulação da Censura.
O Estranho Mundo de Zé do Caixão ainda é o seu melhor filme, pelo menos visto na integra. Depois daquele notável e primitivo inferno colorido de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver e daquele excelente conto cinematográfico, do primeiro episódio de Trilogia do Terror (onde dá um passeio na praia, à frente de Ozualdo Candeias e Luís Sérgio Person, apesar de tudo razoáveis), vem O Estranho Mundo de Zé do Caixão, uma esfuziante féerie de cenas mais insólitas já vistas na tela, desdobrada em três histórias. Basta, em linhas gerais, dar o argumento de cada uma para se calcular o que Mojica fêz, em seu desconhecimento de quaisquer limitações moralistas ou convencionais: 1ª - quatro sujeitos resolvem invadir a casa de um fabricante de bonecas e dar uma curra em suas filhas - entram no quarto, assaltam as camas e obrigam as moças a se submeter a tudo - elas acabam participando com prazer da farra até que o velho chega para rendê-los de espingarda em punho - amarrados, têm os seus olhos arrancados por elas para servir às bonecas fabricadas; 2ª - tomado pela caixão, um corcunda, vendedor de balões, segue a môça (interpretada por Iris Bruzzi) em todos os lugares - depois que ela foi assassinada no dia do casamento, à saída da igreja e colocada no caixão, com vestido de noiva, êle penetra no recinto, desloca o caixão da prateleira, e possui a morta depois de despi-la; 3ª - um professor e sua mulher vão ao palacete de Zé do Caixão; a convite dêste último - lá, com horror, assistem aos espetáculos mais possessos e fesceninos dentro de um pequeno palco - a seguie são presos, cada um em uma gaiola grande, sem água e comida, enquanto Zé pronuncia, dia a dia, as frases bíblicas - no sétimo, sôlta, a mulher, desgrenhada, vai à cela do marido e mata-o, sugando-lhe o sangue a fim de saciar a sêde - ao fim, mortos ambos, são servidos por Zé num banquete aos amigos, onde pedaços de seus corpos são comidos ao som de Haendet (Aleluia). É também a antropofagia cultural, o devorar do filme de suspense ou horror, acadêmico, formalista, contido.
Os dois últimos episódios, em especial, contêm surprêsas lancinantes. Um dêles apresenta um dos planos mais originais e arrojados já concebidos no filme: os seios da morta como que dançando no caixão (ignoramos se foi perdoado pela Censura). Um mundo exemplarmente não-convencional, um cinema exemplarmente descompromissado com tudo. Talvez se trate também do melhor exemplo do Marquês de Sade no cinema.

Correio da Manhã
20/03/1969

 
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