A pena de morte é uma aberração contra o mundo civilizado. É lamentável que ela vigore na França. Mas nada disso impede que êsse último filme de Claude Lelouche
seja também uma aberração. La Vie, L'Amour, La Mort (A Vida, O Amor, A Morte) se consiste, possivelmente, no mais rotundo fracasso do II Festival do Filme.
Parece inconcebível que, cêrca de quinze anos decorridos, apareça uma espécie de emulação de André Cayatte. Cayatte já era o anticinema, premiado acadêmicamente, em festivais por volta do decênio de 1950. Mas ai está, ao alcance da nossa paciência, o caiatismo ululante, algo enfeitado com as patisseries fotográficas de Claude Lelouch. No cinema francês, o grande cinema de um Resnais e um Godard, esta realização nem sequer representa uma contradição - é o desafinamento piegas. Aliás, a maior lição cinematográfica contra: a pena de morte talvez não nos tenha vindo da França e, sim, dos Estados Unidos, através de um outro grande cineasta: Robert Wise,
com o seu I Want To Live (Quero Viver).
Os dois últimos filmes de Lelouch aqui exibidos, Un Homme et une Femme e Vivre Pour Vivre, obtiveram um enorme êxito de bilheteria, graças principalmente à fotografia encantatória. Agora, La Vie, L'Amour, La Mort sequer se preocupa com isso: o despojamento caiu na arenga discursiva e num hino involuntário à dedicada eficiência da polícia francesa. Em paralelo, o protesto contra a guilhotina esboroa-se em catilinárias do tempo de Dreyfus. Salva-se a razoável naturalidade dos protagonistas vividos por Amidou e Caroline Cellier; mas é pouco. A pena de morte, sob a ótica de Lelouch, transforma-se, para o espectador, na pena do tédio. Menos mal. mas não é cinema.
Correio da Manhã
21/03/1969