Oliver!, escolhido para a inauguração do Segundo Festival Internacional do Filme, se consiste num dos exemplos típkos do cine-espetáculo. Trata-se de livre adaptação do clássico de Charles Dickens, que, antes, na tela, sob a direção de David Lean, resultou num dos grandes filmes inglêses de sua época.
O diretor, Carol Reed, teve uma fase de grande ascensão em sua filmografia, quando dirigiu sucessivamente O Condenado, O ídolo Caído e O Terceiro Homem. A seguir, enfrentou um período de decadência com a Rua da Esperança, Trapézio e até coisas ainda menores. Agora, Oliver! constitui uma esfusiante arremetida na área do musical, continuando, a fita, o empreendimento teatral que lhe antecedeu. Evidentemente, um espetáculo muito bem administrado. Alguns dos scores musicais de Lionel Bart são ótimos. Apreciável o desenho de produção de John Box e ainda melhor a fotografia do veterano Oswald Morris. A coreografia de Onna White não inova, mas auxilia o ritmo do show. E, enfim, muito mais coisas podem acontecer numa concepção de filme para ser projetado em 70 milímetros, do que em cinemascope, tela panorâmica ou o velho quadrado, da época do cinema mudo.
Os intérpretes, em geral, cumprem excelentes aparições (um dos méritos habituais de Carol Reed): o menino Mark Lester é bonito, expressivo, possui o físico adequado ao papel; Ron Moody, magistral como Fagin, em sua movimentação histriônica; da mesma forma, Oliver Reed e Harry Secombe. E Shani Wallis, muito simpática, como Nancy.
Algumas sequências merecem ser citadas, como a inicial, durante todo o período no refeitório dos garotos ou como as admiráveis composições da sequência do funeral. Outra passagem musical, de grande vivacidade, aquela da taberna, quando Nancy procura fugir com o menino a fim de reentregá-lo ao seu tio. Tudo isso, mantém a realização sempre em nível de interêsse, durante cêrca de três horas de projeção.
Paira, todavia, a impressão de que o filme ainda poderia render melhor, caso houvesse mais audácia e menos rotina no tratamento a determinadas sequências. A linguagem de Reed é aparatosa mas não é moderna, naquilo que se pode entender ao compará-lo com o rejuvenescimento constante de um cineasta, como, por exemplo, George Sidney. Quem conhece êste último, ao ver Oliver, pensa logo no que êle faria. De qualquer forma, o cinema tem de procurar cada vez mais dinamizar a comunicação pelo espetáculo, que é exatamente uma de suas funções essenciais.
Correio da Manhã
27/03/1969