Afinal, chega-nos Armadilha do Destino...
Afinal, chega-nos Armadilha do Destino (Cul De Sac), uma realização de Roman Polanski, anterior às suas três últimas e que ganhou o prêmio no Festival de Berlim. E, com ela, um dos últimos filmes inéditos aqui no Brasil de Françoise Dorleac, morta num desastre de automóvel. Depois de Cul de Sac – por coincidência ou não - Polanski recorreria à irmã gémea de Françoise - Catherine Déneuve - para protagonizar o faladíssimo Repulsion, prestes a estrear Rio de Janeiro.
Cul de Sac se consiste basicamente em modalidade de fita já muito explorada, ou seja, umas poucas pessoas obrigadas a ficarem retidas em determinada localidade e, em decorrência, eclodindo os conflitos e os choques de personalidade. Polanski, entretanto, inova em parte o complexo de situações, desviando-se dos caminhos tradicionais do thriller e do suspense, a fim de forjar o espetáculo do grotesco e da decadência espiritual de uma classe. Isso, em paralelo, não implica no resultado de uma obra de maior envergadura, faltando talvez maior ímpeto às imagens e à própria direção.
Num velho castelo solitário e quase milenar, está instalado um casal. Ela (Françoise Dorleac) é irrequieta, sensual, avoada e desde a primeira aparição - já está de busto nu enrolada no vizinho louro. Ele (Donald Pleasance, em boa aparição) é ridículo, covarde e algo lunático. Ali vai ter o marginal (Lione Stander, bom ator), cujo carro, com o companheiro mortalmente ferido, teve de abandonar, à inercê da maré. A partir de então começa o jôgo dos caracteres até o final alucinado. Nisso tudo, uma dosagem mesclada de erotismo, violência e comicidade, embora, a rigor, não haja nenhuma sequência destacável na fita. Resta apenas a categoria do cineasta, conseguindo manter o interêsse pela trama, sem grandes altos nem grandes baixos.
Cul de Sac serve também para evidenciar como a entrada de Polanski no complexo industrial do cinema americano foi que lhe deu oportunidade de plena realização. Pois trata-se de uma obra que empalidece diante de The Fearless Vampire Killers ou de Rosemary's Baby.
* Cerimônia Secreta (Secret Cerimony), o último filme de Joseph Losey, lançado no II FIF, é, até certo ponto, mais uma decepção dêsse excelente diretor. Embora esteja distante de ser uma fita intolerável, como Boom, não acrescenta grande coisa em sua saga do decadentismo. A primeira hora de filme possui lentidão antifuncional e até enervante, dominada pelo vozerio de Elizabeth Taylor e Mia Farrow, enquanto, como de hábito, a câmara esmiuça o barroquismo do décor - um dos lugares-comuns loseyanos. A parte final denota aquela densidade desejada pelo diretor, chegando inclusive a dar sentido à parte monótona. No choque das atrizes, permanentemente em cena, Mia Farrow, em excelente interpretação, leva facilmente a melhor sôbre Liz, embora esta última também ofereça razoável rendimento.
Basta comparar Secret Cerimony com alguns dos outros · concorrentes à gaivota de ouro, para se ter a impressão de que dificilmente levará a palma.
* Marisol, a "menina precoce" do cinema espanhol, vai casar-se. Mas o noivo, infelizmente, não é Joselito; "o menino precoce", o que impede que se mate dois coelhos com uma só cajadada. O vestido de noiva custará o equivalente a cêrca de 40 mil cruzeiros novos, fato que já seria suficiente para inspirar um filme de Buñuel.
* Jack Palance interpretou o papel de Fidel Castro, na biografia de Che Guevara, feita pela Fox e protagonizada por Omar Shariff. Palance usou nariz e barba postiça e talvez tenha conseguido ficar suficientemente caricato para gáudio do Departamento de Estado.
Correio da Manhã
28/03/1969