War of the Planets poderia até ser um bom representante do new science-fiction, não fôsse a infantilidade do roteiro da dupla Reiner & Moretti. Estamos no ano 2000 (e infelizmente mais longe de 2001, no terreno estético, do que os macacos do computador) e, ele repente, os satélites artificiais ou platafonnas espaciais da Terra são atacados por uma luz verde misteriosa. É a inteligência superior, proveniente de Marte, e que apenas se corporifica numa fumaça esverdeada. As centenas de convidados que celebravam o reveillon no espaço sideral são obrigados a descer correndo para cá quando a luz verde começa a imobilizar os sêres humanos. Daí em diante, arma-se o esquema da fábula, onde, mais uma vez, o bem vencerá o mal - contrafação anticósmica, pois o impacto da experiência e do conhecimento extraterreno elimina dualidades tão acadêmicas como essa. O filme, em si, é bem administrado quanto ao suporte material dos décors, roupas e até fotografia, esta a cargo de Ricardo Pallotini. Mas não só o diretor Anthony Dawson parece haver-se desempenhado burocraticamente de sua tarefa, como os atôres estão caricatos demais, mormente os moralistas. O filme, assim, consegue produzir uma dupla contrafação: aquela do science-fiction em seu aspecto documental e aquela da pureza do seriado. Existiam bons elementos de ficção, a começar pelos diafanóides, os séres energéticos de Marte, e um bom suporte documental, propiciado por alguns elementos da infra-estrutura industrial de produção. Faltou, no entanto, inteligência e capacidade de coadunar - ou mesmo, interêsse em fazer algo que escapasse da rotina. O caráter anedótico vulgar predomina – sem mistério, sem magia, sem charme – com a velha tese reacionária do gênero (ou seja, a vitória do ser humano contra os vilões espaciais, tanto material ou espiritual). Algumas cenas, apoiadas no desenho de produção, lembram algo de Uma Odisséia no Espaço, neste lançamento anglo-italiano. Na tomada final, o mocinho beija a mocinha. Nada a espantar. Apesar da iminência sideral, o que vemos ainda não é só o conservadorismo convencional; há, por exemplo, um número da revista Recherches Soviètiques (à luz do marxismo - sic -) inteiramente dedicado à "evolução do cristianismo". Pano rápido.
The War of the Planets ou I Diafanoidi Portano la Morte, direção de Anthony Dawson, roteixo de Reiner e Moretti, fotografia de Ricardo Pallotini, em eastmancolor, música de Francesco Lavagnino, produção de Joseph Fryd e Antonio Margheriti e Walter Manley, elenco: Tony Russel, Lisa Gastoni, Massimo Serato, Michel Lemoine, Franco Nero (Metro).
Correio da Manhã
26/11/1968