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Persona, de Bergman: filme nº 1 na França

A revista Cahiers du Cinéma, em seu número de fevereiro, apresentou as listas dos dez melhores filmes estreados na França, em 1967, elaboradas por sessenta críticos. Trata-se de uma praxe que vem sendo cumprida desde 1956, pelos Cahiers, e que ajuda a propiciar uma perspectiva das tendências da crítica - também do cinema. Fazendo-se um cômputo de tôdas essas opiniões - acompanhando critério idêntico aos dos organizadores do referendum, fica sendo essa a lista dos vinte grandes lançados em Paris (alguns
dêles também já assistidos pelo público carioca):

1º - Persona, de Ingmar Bergman (Suécia)
2º - Belle du Jour, de Luiz Buñuel (França)
3º - Week-End, de Jean-Luc Godard (França)
4º - La Chasse au Lion à L'Ac, de Jean Rouch (França, filmado na África)
5º - Shakespeare Wallah, de James Ivory (Estados Unidos)
6º - The Big Mouth (O Fofoqueiro), de Jerry Lewis (Estados Unidos)
7º - Playtime, de Jacques Tati (França)
8º - La Chinoise, de Jean Luc-Godard (França)
9º - Deux ou Trois Choses que Je Sais D'EIIe, de Jean-Luc Godard (França)
10º - La Religieuse, de Jacques Rivette (França)
11º - Mouchette, de Robert Bresson (França)
12º - EI Dorado, de Howard Hawks (Estados Unidos)
13º - Sadmikrasky (As Pequenas Margaridas), de Vera Chytilova (Tcheco-Eslovaquia)
14º - Pervij Ucitel (O Primeiro Mestre), de Andrei M. Koutchailovsky (Rússia)
15º - lntimini Osvetlenei (Iluminação íntima), de Ivan Passer (Tcheco-Eslováquia)
16º - Made in USA, de Jean-Luc Godard (França)
17º - La Collectioneuse, de Eric Rohmer (França) ·
18º - Blow-Up, de Michelangêlo Antonioni (italiano, filmado em Londres)
19º - A Condêssa de Hong Kong, de Charles Chaplin (Estados Unidos)
20º - Os Fuzis, de Ruy Guerra (Brasil)

Estamos diante da nova consagração da obra de Bergman. Aliás, Persona, que estêve em cartaz aqui no Rio de Janeiro durante várias semanas neste início de ano, ganhou por larga margem de pontos do segundo colocado, Belle du Jour, prestes a ser lançada no Brasil, e onde, no entender de muitos observadores, estamos frente a um dos pontos mais altos da carreira de Buñuel. Só esperamos que a nossa censura, depois desta evidência, não mêta a sua inteligência notória no assunto, cortando a fita de Cathérine Déneuve. Todavia, apesar do êxito de Bergman (bastante merecido, pois Persona talvez seja o seu maior filme), o diretor do momento continua sendo Godard, apesar também dos inimigos fiéis de sua obra. Godard provoca náuseas a muitos, porém a maioria que o endossa é tão eufórica que o resultado aí está mais uma vez: lançou nada menos do que quattro filmes durante o ano passado, recorde para qualquer cineasta, e - todos êles - figuram entre os vinte primeiros: Week-End (terceiro), La Chinoise (oitavo), Deux ou Trois Choses Que Je Sais D'Eile (nono) e Made in USA (décimo-sexto). Note-se que Godard, nesses referendos do Cahiers, já foi tetracampeão, de 1963 a 1966, com Vivre Sa Vie (1963), Le Mépris (1964), Band à Part (1965) e Pierrout Le Fou. Note-se também que Les Carabiniers (que estêve há pouco em exibição no Paissandu), embora não tendo sido campeão, foi - mais tarde - noutra espécie de cômputo de opiniões entre críticos, considerado o segundo filme de valor nos últimos vinte anos de cinema francês, logo abaixo de Pickpocket de Bresson. Até o momento, nenhum dos quatro filmes seus classificados em 1968 foi estreado no Brasil para o público em geral, a não ser em exibições especiais, em cineclubes ou nas semanas do cinema francês. Um deles, La Chinoise, graças ao mínimo de bom senso do ministro da Justiça, ficou livre das garras subversivas da burrice censorial - uma censura que, desde o episódio Romero do Lago, deixou provado em definitivo que necessita urgentemente de ser censurada.
Jean Rouch, o homem do cinema verdade, tem, com La Chasse au Lion à L'Arc, mais uma vez reconhecido o seu método por parte respeitável da crítica que lhe deu o quarto lugar, enquanto o ainda desconhecido, entre nós, James Ivory, chegou em quinto através de uma fita que, ele mesmo, considera uma espécie de confronto entre espírito ocidental e oriental. Para muitos que viram há pouco, aqui no Rio, O Fofoqueiro (The Big Mouth), de Jerry Lewis, constitui uma surprêsa vê-lo tão cotado, em sexto lugar. Mas acontece que a arte de Jerry, com certo retardo, está sendo descoberta e, embora em nossa opinião The Big Mouth seja um filme menor (longe de The Nutty Professor ou de The Ladies Man), moda é moda. Logo depois de Jerry, chegou uma fita do outro grande cômico do cinema, o bissexto Jacques Tati: Playtime. Há dez anos, desde o magistral Mon Oncle, Tati não produzia. Agora, a sua nova obra reflete a mesma tendência das anteriores, com o famoso M. Hulot. Já Antonioni, mediante Blow-Up, não conseguiu ir além do 18º lugar, ao passo que Chaplin, com o super-rebaixado A Condêssa de Hong-Kong, surpreendia em condições inversas, aparecendo em 19º lugar: existem muitos fiéis, ainda, nadando sôbre o mar de bolas pretas. Os Fuzis, de Ruy Guerra, obteve o 20º lugar. Para o cinema brasileiro, não deixa de ser um êxito, pois tirar tal colocação em Paris (onde estréia quase tôda a nata da produção mundial) não é o mesmo que tirar aqui no Rio ou em São Paulo. Aliás, também Deus e o Diabo na Terra do Sol, conseguiu boa votação, um pouco abaixo de Os Fuzis.
Enfim, por curiosidade, vamos dar a relação dos campeões de cada ano desses referendos do Cahiers, desde quando foi criada a idéia: 1956: Viagem à Itália, de Roberto Rosselini; 1957: Un Condamné à Mort s'est Échappé, de Robert Bresson; 1958: Um Rei em Nova York, de Charles Chaplin; 1959: A Marca da Maldade, de Orson Welles; 1960: Os Contos da Lua Vaga, de Kenji Mizogushi; 1961: O Intendente Sansho, de Kenji Mizogushi; 1962: Lola, de Jacques Démy; 1963: Vivre sa Vie, de Jean-Luc Godard; 1964: Le Mépris, de Jean-Luc Godard; 1965: Band à Part, de Jean-Luc Godard; 1966: Pierrot Le Fou, de Jean-Luc Godard; 1967: Au Hasard Balthazar, de Robert Bresson; 1968: Persona, de Ingmar Bergman.

Correio da Manhã
10/04/1968

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

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