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A moeda de Sidney

Poucos cineastas no mundo vislumbram tanto e tão eficientemente o espírito do espetáculo, próprio ao cinema puro, como George Sidney. Não é o artista “genial'' (e já estamos fartos de alguns pretensos gênios do filme); é o administrador ciente e consciente de uma parafernáíia industrial, das leis básicas da sintaxe da sétima arte e dos objetivos essenciais de maravilhar as massas. Isso não implica em concluir que se trata de um rotineiro fac totum dos grandes estúdios. O rigor que empresta à elaboração ritmica ou aos desenhos de produção, além de efeitos fotográficos, está aliado amiúde com uma vontade de inovar certos aspectos do espetáculo, juntando a pujança dos materiais propiciados pela grande indústria com uma perspectiva pessoal de inserir todos os elementos de construção. Sidney evidentemente, nunca foi um diretor intelectual. Mas a constatação, em suas decorrências, cessa aí. Chaplin é intelectual? E o cinema de Ford, na maioria dos casos? E Hitchcock? E boa parte dos grandes westerns? e Mack Sennett? Ou muito de Clair? Paramos aqui o rolar da lista. Muitos acertam como primitivos; outros optam pela simplicidade, isto é, não a simplicidade externa da obra despojada de grandes efeitos, mas aquela de evitar que o excesso de idéias ou reivindicações brilhantes venha a travar a féerie de formas ligadàs à essência de uma das modalidades do temperamento cinematografíco.
O valor de um filme não circula através da moeda literária, nem ideológica, sociológica ou psicológica. Aliás, qualquer forma simbólica (entre elas, a arte) dispensa êsses a priori de uma lógica artificial. Foi entendendo isso que uma nova geração de críticos, estudiosos e ensaístas resolveu fazer a revisão de um conceito de cinema; que vigorava até o pós-guerra. Fácil de perceber: os musicais da Metro são, em bloco, bastante superiores à obra de Frank Capra. O maior filme de um diretor, como o há pouco falecido Julien Duvivier, não deve ser encontrado na série francesa, de
La Belle Équipe, Pepe Le Moko ou Un Carnet de Bal, e, sim, no outrora "comercial”. A grande Valsa, que pode perfeitamente ser enfocada como um clássico, num misto de padrões eisensteinianos e ophulsianos. Vertigo, de Hitchcock, é uma aula de sinfonia filmica a todos os seus antecessores.
E quantas "obras-primas" da história do cinema conseguem se nivelar ao Maytime, do obscuro Robert Z. Leonard? Não porque êste último fôsse um talento incompreendido, mas porque, por detrás dêle, funcionava todo o know-how de uma equipe.
Na carreira de Sidney, pontificam musicais poderosos como Show-boat (refilmagem da mais famosa opereta de Jerome Kern) ou Kiss Me Kate (Shakespeare adaptado à comédia musical) ou os mais recentes Love in Las Vegas (com Elvis Presley e revelando a fôrça erótica da agora consagrada Ann Margret) e Bye Bye Byrde. Possui um drama excelente, quando Kim Novak surgiu mais bela do que nunca, no papel título de Jeanne Eagels, magistralmente fotografada por Robert Planck. Há ainda o western semimusicado, Annie Get Your Gun, ou a refilmagem de Os Três Mosqueteiros, em ritmo de ballet, com Gene Kelly como D'Artagnan. E nas trilhas do filme histórico de aventura, poucos superam o seu Scaramouche, mormente o duelo demorado, numa alucinante festa de formas, entre o protagonista (Stewart Granger) e o marquês de La Tour D'Azyr (Mel Ferrer).
A moeda ·de Sidney é portanto a administração, a serviço do espetáculo e contra a mediocridade. E em seu último filme, A Moedinha do Amor (Half a Sixpence), êle retorna ao musical com tôda aquela disposição pelo grandioso. Trata-se de uma adaptação da novela Kipps, de H. G. Wells, sucesso nos palcos da Broadway, protagonizada por Tommy Steele, que também o fêz no cinema. George Sidney, além de diretor, é também o produtor da fita - desejo de garantir a continuidade de uma tradição. O filme fala: a história gira.

Correio da Manhã
15/05/1968

 
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