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Varda: De Cleo a Les Créatures

Entre as mulheres que dirigem, Agnès Varda é aquela que, talvez, hoje em dia, possua maior quantidade de títulos positivos em sua filmografia - que, se ainda é curta, vem marcada pelo rigor, pela coerência. Assim como Alain Resnais, ela tem a sua formação de documentarista, assesta o olho da câmara aos prismas da objetividade. Realizou, nesse sentido, alguns curtametragens, como O Saisons, O Chateaux, exibição silenciosa de modas em exteriores de castelos, tendo o cambiante vivo das cores dos vestidos como um dos elementos básicos da estrutura visual.
O primeiro filme de Varda foi um longa-metragem, La Pointe Courie, inédito aqui, mas que mereceu elogios da crítica internacional. Depois, filmou a série de curta-metragens; para retornar ao longa-metragem usando, agora, os recursos da técnica do documentário, a fim de cunhar um certo tipo de nova ficção, ou melhor, ficção objetiva. Além de Le Bonheur (A Última Face da Felicidade), já exibido no Rio de Janeiro com grande sucesso de público e de crítica, realizou, antes, Cleo de 5 a 7, e posteriormente, Les Créatures. Em todas essas realizações parece existir uma homogeneidade de concepção estrutural. Em Le Bonheur existe, como observou Décio Pignatari, uma espécie de levantamento estatístico de cromos da felicidade, embora, por outro lado, o diretor Jean-Luc Godard o considere como um filme imoral, talvez por causa da solução do entrecho, quando a morte ou suicídio de uma mulher permite que o operário continue a viver "a felicidade" com a outra.
Cleo de 5 à 7, datada de 1962, será vista no Brasil com cinco anos de atraso. A respeito dessa fita, a diretora (que vem sempre, aliás, se encarregando do roteiro e dos diálogos de sem filmes) alega que procura usar o vocabulário plástico do cinema antes mesmo que as idéias sobre o próprio filme se concretizem nas palavras. A película que é uma faixa documental-aliatória sôbre a vida da protagonista durante cêrca de hora e meia, com a sua durée objective, marca o reemprêgo da técnica do tempo real de duração do espetáculo correspondendo exatamente ao tempo fictício dos acontecimentos filmados. Esse recurso foi utilizado pela primeira vez por Robert Wise, no clássico The Set-Up, (Punhos de Campeão) e, alguns anos depois, novamente utilizado por Fred Zinneman, num dos clássicos do western, High Noon (Matar ou Morrer). A edição geral da fita é quase análoga àquela de Vivre Sa Vie, de Godard, isto é, segue a norma de uma subdivisão em tableaux, cada qual tendo como subtítulo uma localização cronométrica dos movimentos da protagonista, interpretada por Corinne Marchand. Por exemplo: a cena em que ela está com o seu amante, tem o seu tableau correspondente denominado de Cleo de 17h25m às 17h31m.
Les Créatures, embora sendo uma realização bastante recente, também deve ser lançada aqui em 1967. Possui uma dupla história: a vida de um casal e o processo de nascimento e mentação de um romance por parte do marido. Essa fita foi inteiramente rodada na ilha de Noirmoutier, que fica frente à costa de Nantes. O protagonista, enquanto vai andando pela ilha e observando os habitantes e seus costumes, vê brotarem os seus personagens do romance. São "as criaturas", que se transformam diante da imaginação dêle - piões de um xadrez literário que joga - um filme que nasce dentro do filme - outros dos recursos mais caros do cinema moderno.

Les Créatures apresenta um elenco de nomes célebres, o que não é comum na obra de Agnès Varda: Catherine Deneuve, Michel Piccoli, a sueca e superberg maniana Eva Dahlbeck, Jacques Charrier e Nino Castelnuovo, que teve a sua grande oportunidade num dos filmes de maior sucesso· do cineasta, marido de Varda, o não menos famoso Jacques Démy: Les Parapluies de Cherbourg.
Talvez Les Créatures perfaça uma meditação a respeito da dialética radial do cinema, aquela entre documentário e ficção; usando, no caso, como ponto de partida da tese, uma ficção de documentário, que é devolvida à sua raiz puramente objetiva ao ser glosada por uma ficção suposta ou superposta, ou falsa ficção ou ficção de segundo grau. Pois às aberturas para o cinema são ainda imensas.

Correio da Manhã
07/12/1966

 
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