"Entre os chamados "clássicos" da obra de Fritz Lang, M - Vampiro de Düsseldorf está longe de ter chegado às alturas de um Siegfried ou de um Metropolis. Mesmo tomando em consideração a época de sua realização, não pode também ser encarado como um filme maior do grande cineasta. Algumas de suas fitas recentes, superam-no igualmente: Os Mil Olhos do Dr. Mabuse e O Tesouro de Barba Rubra.
O ntmo das sequências se ressente em algumas passagens, em especial o longo diálogo do inspetor de polícia com um dos marginais, logo após a caçada ao protagonista no edifício. Nem satisfaz a alentada cena final do julgamento dêste pela assembléia de bandidos.
Feitas as ressalvas, pode-se entretanto desviar a atenção para os inúmeros méritos que a película detém. A começar pela cinegrafia - até hoje magistral, apesar da excessiva a antifunciona dose das tinturas expressionistas, principalmente os renitentes efeitos com a fumaça dos cigarros. Tomadas e enquadramentos com admirável apuro e senso de perspectiva, a par de soluções, por elipse e paralelismo, avançadas na linguagem da época. Boa também a utilização do detalhe e eficaz o tratamento nos primeiros planos. Um filme de antologia, sem ser o que se denomina um clássico.
E uma nota final para o escândalo que é a projeção do filme nas duas casas exibidoras - cinemas Flórida e Kelly, principalmente êste. Via de regra, não se enxerga as cabeças dos personagens, pois um filme realizado há quase trinta anos não se adapta às atuais "técnicas" de projeção sem sofrer alguns "arranjos". Um dêstes, é estampar as legendas bem acima da linha inferior do quadro, de modo que possa o operador abaixá-lo bastante e não sacrificar as cabeças. Mas, no caso de M, a solução somente seria viável se as legendas saíssem sôbre as mesmas cabeças. Entre a cabeça e a legenda, o exibidor escolhe esta última e o público, já assaltado na bôlsa, perde a cabeça."
Correio da Manhã
29/07/1962