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O Bravo Guerreiro

Cinema Palácio - 19 pessoas - bocejos, lamentos, assovios: na tela, O Bravo Guerreiro. Não fazemos essa constatação inicial com intenções pejorativas. Com Godard já foi assim, Cidadão Kane era uma obra "difícil" há vinte anos. Por seu turno, o diretor, Gustavo Dahl, é um intelectual, foi crítico e ensaísta, estudou a técnica. Mas, ao contrário do que aconteceu com Godard, Welles e tantos outros inventores, Gustavo Dahl não estava querendo realizar uma obra experimental, dessas que, em função de um mínimo de redundância no terreno da informação estética, afasta, de início, as massas de espectadores. Desejou, intencionalmente, fazer uma fita de idéias, um filme político, relativo à contingência brasileira, embora anterior a 31 de março de 1964. Uma obra endereçada diretamente ao público e sem perda de tempo, já que não poderia mofar nas prateleiras dos museus e cinematecas. Enfim, a obra participante.
Mas, aí mesmo, nasce a contradição. Como o próprio GD disse, em entrevista na semana passada, comunicação (que, aliás, não é o mesmo que informação) não se consiste em sinônimo de arte. Acontece que, num filme da natureza de O Bravo Guerreiro, o êxito ou fracasso estético, criativo (cuja aferição é assunto de uma elite intelectual e especializada) sentem a necessidade de uma aderência da comunicabilidade, já que não se trata de um projeto poético e, sim, prosaico, em sua estrutura e em seu objetivo de ativar o raciocínio da platéia para algo além do próprio cinema em si. Resultado: o mencionado projeto parece haver morrido no nascedouro, porque, de um lado, para as elites pensantes, as situações e os discursos proferidos correspondem ao óbvio (quando, não, ao estereótipo ou ao lugar comum), enquanto o público (e, segundo Glauber Rocha, "é para o público que êle fala") jaz na indiferença. Indiferença desfechada pelo discursivo e teatralismo frontal e pela opção pré-determinada de abandono do suporte do espetáculo, que é a essência, não diremos dos lances criativos, porém catárticos do cinema. Isso não ocorreu com duas fitas políticas brasileiras melhor sucedidas, como Os Fuzis, de Rui Guerra, ou, em plano abaixo O Desafio, de Paulo Cesar Sarraceni. Se alguém quiser apenas inventar, ser o Joyce ou o Mallarmé do Cinema, então operará estritamente num problema de linguagem e deixará o seu público para as gerações do futuro (que poderão inclusive absorver o inventor através dos experts ou dos diluidores). Mas se quiser fazer o filme sôbre, acionar idéias, não pode demitir-se do suporte natural do cinema. “Um filme brasileiro é um filme brasileiro, é um filme brasileiro", diz Gustavo Dahl, parafraseando Gertrude Stein. Mas não é só isso, ou melhor: um filme é um filme, é um filme. Se não, só saindo para a ação.
Vamos agora ao conteúdo, já que se trata de uma fita de idéias. A obra pretende mostrar a decadência, a alienação, a corrupção do sistema político, onde a ingenuidade do povo é quem impulsiona o carreirismo dos aproveitadores, negocistas e demagogos. Um deputado luta com a sua consciência e com a dúvida de aderir ao maquiavelismo (o fim justifica os meios?) com vistas a realizar algo de concreto ou mesmo subir dentro do projeto de liderança. Sucumbe na inabilidade e na indecisão, vê a familia desfeita e, no final, tal como em Le Feu Follet, vai matar-se. O partido ao qual pertencia, em muito assemelhado ao antigo Partido Socialista Brasileiro, é pequeno, porém decente. A dúvida é aderir ou não ao Partido Nacional, espécie de mescla entre antigos PTB e PSD, pois, êstes, apesar do empulhamento, obtêm votos. O diagnóstico, de um modo geral, é correto, embora óbvio, falho, porque não se vislumbra nenhum militar. Ocorre que a realidade discernida na fita, apesar de recente, corresponde ao passado - há mais de 5 anos, os dados centrais do mecanismo do poder são outros, para falar em têrmos puramente políticos e, não, sócioideológicos. E se o background político, tal revela o filme, era tão nefasto, a ponto de um idealista marchar para o suicídio, as coisas teriam de mudar. Mas a fita, que intenciona debater um tema básico e palpitante, sequer discute se mudamos para melhor ou para pior. Sequer equaciona a realidade contingente.
Convenhamos que, hoje, é difícil fazer-se, no Brasil, ou em outros países, com a necessária liberdade, uma fita política, a começar pelo empecilho da censura, que possui um conceito extremamente lato de "subversão" e um outro extremamente restrito de política. Mas a existência dêsse empecilho não justifica a existência de um filme que não é.

Correio da Manhã
05/06/1969

 
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