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O filme e a TV

O advento da TV e o consumo maciçoe crescente dos programas levaram já, desde há algum tempo, àquele debate referente ao futuro do cinema, que havia sido saudado como arte do século. Há duas indagações para serem feitas no tocante à questão: relações e diversidades entre cinema e televisão e o nível de durabilidade (ou mesmo perenidade) do filme como objeto estético.
Existem, pelo menos, quatro fatôres distintos de suporte ou até materialização dos signos, quando se trata de examinar as condições e efeitos de exibição de uma mesma fita, via cinema e via televisão. E, em boa parte, as grandes companhias produtoras não deixaram de examinar alguns dêsses aspectos, tendo em vista a sua política de investimentos. São os seguintes os fatôres: 1 - na TV, a projeção das imagens é muito menos precisa e, isto, para McLuhan e muitos teóricos da informação, implica num maior esfôrço de penetração, da parte do espectador para dentro do campo visual, no além de sua superfície referencial, forjando também outro condicionamento de percepção; 2 - a TV, ao contrário do cinema (e, aqui, estamos falando em veículo e, não em informação) se consiste no antiespetáculo, não só em decorrência das dimensões restritas da tela (vídeo), como também por causa de um suporte sonoro extremamente exíguo; 3 - na TV inexiste catarse coletiva, comunicabilidade inter-humana dentro do público, porque é assistida, geralmente, a um, ou a dois, ou em família e ou com amigos; 4 - embora se tratando de um fator mais acidental, a dublagem, quando empregada, mais ainda na TV acarreta a impessoalização do comportamento do ator. São estas algumas das diversidades que modificam bastante o modo de consumir um filme, quando a sua exibição sai das salas de espetáculo para o vídeo. O mais básico reside sem dúvida na descaracterização ontológica do filme, que fôra concebido como forma de espetáculo. Em suma, uma conclusão, aparentemente óbvia: a guerra, cinema x TV, transcorre muito menos no campo da eficácia ou poder da informação estética do que no terreno econômico, vinculado ao imediatismo do consumo e o acesso ao veículo (ou seja, comunicação). Ninguém jamais pensou em dizer, como Lênin, que o filme dentro do vídeo seria a "arte do século".
A segunda etapa para essa visão futura do filme seria especular a respeito da durabilidade de cada produção, tomada em si, como objeto estético - a obra. Foi Walter Benjamin o primeiro (em
A Obra de Arte na Época de Suas Técnicas de Reprodução) a notar o fim da aura do objeto, com o progresso continuado dos meios de reprodução, dando, com isso, a maior importância ao cinema, que já nascia como forma reproduzida e reproduzível. O filme, então, não é o objeto único, mas a sua durabilidade, como foco de informação estética, é normalmente menor do que aquela de um texto literário, principalmente de outrora, quando, inclusive, ainda não se questionava sôbre o fim do romance ou do verso. Aqui, incide um paradoxo: quanto maior o poderio material de uma forma de criação, menos duráveis os seus produtos. No cinema, que é a principal forma de criação industrial, a pujança de materiais é tão imensa, que faz os seus signos se multiplicarem quase ad infinitum. Por isso, são muito mais renováveis - e a curto prazo do que os signos verbais. Enquanto a literatura, durante séculos, vive das letras e dos sinais gráficos, o filme; em pouco mais de meio século, usou e abandonou um sem-fim de recursos significantes. Poetas, como Mallarmmé ou o nosso Sousândrade, demoraram o mesmo tempo que o da atual história do cinema para serem compreendidos plenamente, ao passo que cineastas, como Resnais e Godard, escandalizavam há 5 anos e, hoje, já estão sendo incorporados à sintaxe do fiime comercial. E, então, emerge o paradoxo final: a TV raramente exibe as grandes produções modernas, mas, sim, as velhas latas dos decênios de 30 ou 40, vendidas a ela pelas grandes emprêsas. Não contribui para o processo do filme, nisto, e as produções feitas especialmente para a TV têm o consumo condicionado. O cinema ainda é a criação por causa do espetáculo.

Correio da Manhã
25/10/1969

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

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Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
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Julien Duvivier
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