A Ciascuno il Suo se constitui no quinto longa-metragem na carreira do diretor Elio Petri, que, após um período onde realizou documentários de interêsse, iniciou-se, em 1960, com O Assassino. Em 1962, fêz I Giorni Contati, em 1963, A Professôra de Vegevano, em 1964 dirigiu um dos episódios de Alta Infidelidade e dois anos depois fracassava com A Décima Vítima.
Trata-se, sem dúvida, de um cineasta que pensa em têrmos de contingências e conflitos e procura agitar problemas ou denunciar situações. Tudo isso, sem cair no mero dó de peito de proclamar suas boas intenções e, logo, lavar as mãos. Mas, até agora, com altos e baixos, ainda não denotou aquela fôrça que permite alçar-se entre os grandes do cinema italiano, seja pela invenção ou originalidade, seja pelo impacto do espetáculo: um De Sica, um Rosselini, um Visconti, um Fellini, um Antonioni. Nem mesmo ainda realizou o seu filme-base, que, no passado, ou no presente, marcou o nome de um Germi (O Caminho da Esperança), um Castellani (E Primavera), um Pasolini (Teorema) ou um Rosi (Salvatore Giuliano).
Condenado pela Mafia no entanto, sem ser algo de exponencial, é um dos seus melhores filmes, mais uma daquelas realizações que procuram, através dos crimes da Mafia, denunciar a corrupção política, a violência e o poder de minorias, a ignorância e a covardia no meio-ambiente. E aí está, de acôrdo com a filmagem in loco, o cenário natural propício e tradicional - Sicília e as cidades de Cafalu e Palermo. Dois homens, durante uma caçada, são assassinados a tiros, sendo que um dêles já havia recebido ameaças sucessivas de morte. A partir de então, quando os membros da família de uma das amantes da pseudovítima principal são presos e acusados pelo delito, um professor tímido e misantropo sai de seu alheamento e envida desvendar a farsa. Evidente enaltecimento da atitude do intelectual, rebelado diante do conformismo.
Petri não se deteve em demasia na polêmica ou no detalhar diretamente o aspecto político-social da trama. Êle emerge no escorrer dos eventos. O filme e, e deve ser, acompanhado como uma obra policial bem realizada, sem faltar, inclusive, a surprêsa do desfecho. A câmara movimenta-se pelas cidades e interiores, fixa as perplexidades, enquanto a foto em côres procura, em dadas sequências, auxiliar na criação de um tom adequado de atmosfera. E não há concessões; nem ao derramamento polêmico, nem ao melodrama, nem em favor de soluções romanceadas. Gian Maria Volante, no protagonista, bem dirigido, embora com certas hesitações; a grega Irene Papas marca, mais na expressão física, seu tipo. Boas as a parições de Salvo Randone e Giovanni Pallavicino, no professor Roscio e no mafioso Raganá.
Correio da Manhã
08/05/2014