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A Maldição da Montanha

Realizações como “Crossfire”, “The Sniper” ou “Give Us This Day” parece que não mais termos ocasião de ver surgir na carreira de Edward Dmytryk que, depois de passar não muito airosamente pelos interrogatório do Comitê de Atividades Antiamericanas, resolveu se dedicar inteiramente às superproduções de feição comercial em CinemaScope, VistaVision, etc. Assim, de início, contribuiu para o toque melancólico do encerramento da fase de Stanley Kramer como produtor independente ao dirigir o ambicioso e subserviente “The Caine Munity” (A Nave da Revolta) para chegar até, em pleno período da maior indiferença em relação ao cinema-arte, a se preocupar com as peripécias das aventuras e correria em Hong-Kong do velhusco Clark Gable.
Agora é o não menos velhusco Spencer Tracy que lhe prende a atenção ao tentar, em VistaVision, escalar as montanhas de papelão que a Paramount providenciou como cenário principal de “A Maldição da Montanha” (The Mountain).
O argumento é dos mais repisados e Dmytryk nada fez para atenuar o seu aspacto trivial – inversamente, compartilhou totalmente com o clima de mediocridade que envolve essa realização, conferindo ênfase justamente aos trecos mais fracos, Estamos novamente em Caim (Ribert Wagner – playboy rural) e Abel (Spencer Tracy – bondoso pastor de ovelhas) que, desta feita, é muito mais velho que o irmão tendo-o criado como se fora seu próprio filho, sem, entretanto, compreender como o jovem tornou-se tão diferente dele, isto é, tão mau. A explicação não virá também para os espectadores, pois, antes que Caim tenha tempo de se converter ao bom caminho, cairá do clássico precipício com todo o dinheiro que surripiou dos passageiros mortos do avião que tombou no elevadíssimo cume da montanha. Tudo isso se passa durante a descida, de volta do pico, com Spencer Tracy, lá adiante, levando salva, num trenó, por ele improvisado, uma jovem hindu, única sobrevivente do sinistro. Outrossim, é claro que a descida será muito mais rápida e menos acidentada que a subida (esta, com peripécias que fariam inveja ao mais arrojado dos filmes em série) em virtude de faltarem poucos minutos para que se cubra o tempo comercia de projeção meticulosamente calculado para a película.
No elenco vamos encontrar ainda a extraordinária Claire Trevor inteiramente desperdiçada numa ponta – um papel muito pequeno e sem o menor sentido funcional para o desenvolvimento da trama. Assim também, William Demarest, bom ator, fantasiado de padre, a fim de, somente no final, soltar a piadinha-chave de ouro a la Hollywood.
Um excelente fotógrafo como Franz Planner, teve também anulada qualquer possibilidade de intervenção eficiente, pois se, lá no alto, montanhas de papelão borrifadas de branco, legitimo tema tipo tampa de caixa de bombom, eram praticamente inaproveitáveis, cá embaixo Spencer Tracy tangendo ovelhas não se constituía em motivo dos que mais entusiasmassem. Mesmo assim, o caráter pictórico da fita, dentro desse esquema, é apresentado com um mínimo de dignidade.
Já, por seu turno, Danielle Amphiteatrof, no acompanhamento musical, comparece com os característicos acordes grandiloqüentes toda a vez que algo de grave se anuncia, bem como mantém o sublinhamento de diversas passagens mediante os temas mais banais..

***

É de se lastimar que um cineasta de talento já tão bem evidenciado como é o caso de Dmytryk, tenha entrado em período de completo marasmo criativo, colocando-se a disposição para assinar qualquer abacaxi colorido que lhe venha às mãos com cheiro de negócio lucrativo. E muitas vezes o tiro sai pela culatra, pois o público atualmente muito mais bem prevenido percebe com facilidade o logro, especialmente quando é vazado mediante expedientes por demais surrados. É o caso do presente filme: a chegada dos dois protagonistas ao alto da montanha é recebida com irônica salva de palmas da platéia.
Constitui outrossim uma boa ocasião para que os exibidores meditem bastante no método de equilibrar os seus respectivos planos de lançamento. As produções de feição nitidamente comercial tem dominado completamente o critério orientador da programação dos nossos principais circuitos. Desde “A Morte Passou por Perto”, de Kubrick, que não foi aqui exibida, nessa cinco ou seis semanas, uma fita seques de maior realce. Um excesso de entretenimento desvirtua sensivelmente o próprio objetivo que pauta a sua exploração – principalmente com a continua repetição de coisas da estirpe de “A Maldição da Montanha”, que somente se desviam da vulgaridade para penetrar no ridículo.

Jornal do Brasil
08/07/1957

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

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