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Dois Filmes

EM BUSCA DE UM HOMEM
(Oh! For a Man)

Para Eric Rohmer, “Cahiers du Cinéma – 76”, a obra de Frank Tashlin corresponde à consumação de uma nova tendência nos domínios da comédia americana: e também aponta o principal mérito, a grande originalidade do “regisseur” de se constituir no primeiro caricaturista do écran: “aqui, os atores são de carne e osso, mas possuem, amo mesmo tempo, a maleabilidade dos personagens de Emile Cohl”.
Acreditamos ter o crítico da mencionada revista enxergado com raro acerto ao procurar desenvolver essa idéia. Na realidade, os tipo em “Oh! For a Man” surgem definitivamente marcados por tal característica em todas as suas contexturas, tanto extrínsecas como intrínsecas. Humor vivo, dosado com uma série de recursos visuais para ininterrupta propulsão dinâmica. E na infra-estrutura: uma sátira positiva e altamente saborosa da arraigada concepção do “sucess” na meca do capitalismo, principalmente vinculada aos meios de divulgação: o rádio, a televisão e, mesmo, o próprio cinema.
Frank Tashlin, até então, não fora capaz de convencer plenamente: “O Tenente Ela Ela”, apenas uma comédia bem divertida, e “Sabes o que Quero” se nos afigurou como um fracasso, malgrado já oferecesse alguns aspectos eficazes de suas pesquisas, explorados agora com pleno êxito em “Em Busca de Um Homem”. Seu esforço em renova o gênero, trazer novos elementos a ativar as últimas experiências, como a caricatura e o legado frisante de uma parte aproveitável do trabalho dos melhores humoristas modernos (o seu inclusive: já fez “cartoons”), permitiu que, em fulminante salto qualitativo, levasse a cabo uma das realizações mais importantes no gênero, entre as que nos brindou nestes derradeiros anos a safra hollywoodiana. Melhor ainda: fugindo aos limites do critério estrito de enunciar especializações, é de se colocar “Em Busca de Um Homem” como a película aqui lançada que até hoje mais soube por em função os recursos e perspectivar visuais do cinemascope, lado a lado com “Nasce uma Estrela”, de Cukor, e “Vidas Amargas”, de Kazan. Não se nota uma cena sequer que não obedeça a uma invejável solidez de construção a partir dos valores imediatamente plásticos. Rigorosa funcionalidade e conseqüente adequação dos elementos em foco, em paralelo com o “mood” da seqüência. “Décor” preciso, disposição e movimentação dos atores em perfeita harmonia com a utilização básica do espaço; e tudo isso, sob o tratamento impecável da esplêndida fotografia de Joe Mac Donald, aqui encontrando um terreno muito melhor para achados e efeitos do que no recente “Cárcere sem Grades”, de Fred Zinneman. A noção de como fazer valer a cor é excepcional, especialmente ao lembrarmos que poucas vezes o panorâmico dos exteriores aparece a fornecer um meio caminho percorrido para as necessárias elucubrações.
O roteiro, elaborado também por Tashlin, baseado numa peça de George Axelrod, apresenta uma construção equilibrada e meticulosamente calculada para fins de execução de um grupo de situações e episódios passíveis de uma boa transposição para a linguagem cinematográfica. Com vistas a uma maior condensação e menor dispersão dos fatores essenciais do entrecho, poderia objetar-se contra o destaque propiciado em determinadas passagens a figuras como a secretária da estrela, muito bem interpretada, aliás, pela veterana Joan Blondell, ou a noiva do protagonista, Betsy Drake. Porém tal realce virá a funcionar no final, quando, todos à frente do palco anunciam “happy-ending” geral – um derradeiro, arrojado e surpreendente achado do diretor-roteirista. Achado não tanto precioso pela idéia em si, que não é totalmente inusitada, mas pelo modo rápido e incisivo em que a situação se define, quando os próprios atores parecem estar sem-cerimoniosamente a se desculparem pela solução proporcionada em comum aos respectivos destinos de seus personagens, quando também a sátira sobre Hollywood ecoa estrondosamente.
E Tashlin, dinâmico, se reporta às diversas camadas de intensificação que o gênero faculta, sempre com espírito de renovação, desde a atmosfera lubitcheana até o “non-sense”, seu estilo comportando a mescla do sofisticado com o desenvolto no desdobrar dos “gags”, um processo plurivalente de mútua contenção e abastecimento. Destarte, nos trechos decorridos nos grandes escritório da companhia em que se fica a par das sutilezas correspondentes ao acesso à posição de “executive”, como a posse de uma “toillete” particular, estamos em Lubitch, principalmente pela impostação inicial da seqüências, do tom dos diálogos. Já, no instante em que Tany Randall é presenteado com o vulcânico beijo de Jayne Mansfield, quando as pipocas estalam e saltam do bolso de seu paletó, estamos no extremo oposto.
Isto não quer dizer que o diretor fosse de imediato influenciado por outros grandes cineastas. Trata-se somente de procurar uma indicação das várias latitudes em que intervém. Pelo contrário, como já tivemos ocasião de assinalas, “Oh! For a Man” se constitui num fita completamente original, diferente, na qual a capacidade inventiva do ser responsável principal delineia-se a todo momento.
A tendência satírica não se discerra através de um método de entrelaçamento de uma série de nuances sutis; ao inverso, é pronta e vigorosa no seu manifestar-se. A cena em que Jayne Mansfield, ao descer do avião, abre o capote e se exibe de maiô para a imensa assistência diz tudo. Em diversos planos audaciosos, em que a diagonal reincide com sucesso, mediante o cinemascope, vê-mo-la sempre coberta de “negligés”, espumas ou toalhas – atestado contundente de seu temperamento. O seu tipo físico se adestra admiravelmente ao papel; da mesma maneira, o temperamente. E o diretor estica ou avoluma as sinuosidades de seu corpo e afim de conferir o aspecto caricato do personagem.
Tony Randall revela-se definitivamente como um excelente comediante. Impagável nos momentos das grandes eclosões e magnífico exemplo de auto-contenção, evitando as caretas desnecessárias da passagens menos febris. Sua aparição marcante em “Os Noivos de Minha Noiva” possibilitou que se denotasse com facilidade o seu talento.
E no “supporting-cast”, temos, além de Joan Blondell e Betsy Drake, John Willismd, eficiente como de costume, Lili Gentle e Henry Jones.
Também o acompanhamento musical de Cyril Mockridge se revela muito bem adequado e perfeitamente entrosado às variantes fornecidas pelo desenrolar do filme. O sublinhamento de muitas cenaspermanece adstito mais imperativos da consisão e sibriedade, sem nunca tentar dizr mais do que o devidamente estipulado pela imagem.


SEM LEI E SEM ALMA
(Gunfight ar O. K. Curral)

O “western” mais uma vez reunindo as figurar famosas do xerife Wyatt Earp e Doc Hollidaym ressuscitados já em diversas ocasiões, a mais feliz “My Darling Clementine”, de Ford.
O espírito sadio da aventura, fixada em seus contornos mais putos, é o que caracteriza “Sem Lei e Sem Alma”. É a fábula que se apóia na velha e eterna luta do bem contra o mal, trazendo à luz novamente duas figuras reais. Que se tornaram uma legenda. O “western” com todas as suas clássicas recorrências míticas, possibilitando um clima propício e válido em sua contextura ao desencadear incessante da ação, prescindindo de uma lógica, de uma racionalidade fundamentada no estudo de uma provável realidade dos fatos, da reação e comportamento individual. Nesse sentido é que deve ser compreendido “Gunfight ar O. K. Curral”, assim como, por exemplo, “As Aventuras de Robin Hood”, a antiga fita de Michael Curtiz e William Krighley, com Errol Flynn e Olivia de Havilland.
“Sem Lei e Sem Alma” se consiste também na melhor película de John Sturges, que há algum tempo vinha prometendo um filme de maior categoria sem passar entretanto do interessante exercício com o cinemascope de “Bad Day at Black Rock”.
Neste último, todavia, muito bem auxiliado pela fotografia de Charles Lang Jr. E pelo acompanhamento musical de Dmitri Tiomkim, consegue enfim criar uma peça de rar unidade para o tempo de projeção algo avantajado e tomando em consideração ainda a série de “qüiproquós” proporcionados pela aventura,
Dois artistas de grande cartaz encabeçam o elenco, no “rôle” dos dois protagonistas: Burt Lancaster (Wyatt) e Kirk Douglas (Doc). O primeiro está melhor, seguro e sóbrio em suas reações; Kirk Douglas contudo pertence aquele imenso grupo de interpretes que geram um tipo e/ou um temperamento por demais marcado e que posteriormente faz que se torne difícil a absorção por um novo personagem que venha a representar (um Spencer Tracy, um Jean Gabin, um Robert Mitchum). Ao contrário de em “Sede de Viver”, de Minelli, ele aqui se encontra muito solto, à vontade para dar vazão a todas as suas explosões características, como por exemplo, a hora em que interroga Jo Van Fleet no quarto do hotel. Porém, Doc Holliday é um papel que não deixa de conferir oportunidade a que ele faça valer uma série de qualidades das quais também indiscutivelmente é detentor.
John Sturges faz cinema de alto nível sem recorrer a grandes efeitos de correrias de cavalo ou mesmo da violência. A sua maior virtude é manter u ritmo vivo, sempre despertando o interesse pelo desfecho das ações, do começo ao fim da película. Obtém na realidade um excelente clima de tensão durante os 10 minutos que antecedem o instante inicial do duelo no curral. E o tiroteio se desenrola com ótimas passagens, em especial aquela em que a figura de Doc preenche o pequeno retângulo da janela e liquida Ringo (John Ireland) com uma descarga impiedosa de tiros.
A fotografia de Charles Lang Jr. é um ponto a se destacar – rigor funcional e impecabilidade no uso do enquadramento e no tratamento da cor.
Na parte feminina do elenco, Jo Van Fleet tem melhor destaque do que Rhonda Flemming, esta apenas passivamente emprestando a sua beleza ao colorido de algumas seqüências. E o trecho em que a sua atuação tem maior possibilidade de realce, quando é presa pelo xerife em virtude de sua insistência em prosseguir jogando cartas é, sem dúvida, o episódio mais fraco de “Sem Lei e Sem Alma”.

Jornal do Brasil
12/01/1958

 
Uma Odisséia de Kubrick
Revista Leitura 30/11/-1

As férias de M. Hulot
Jornal do Brasil 17/02/1957

Irgmar Bergman II
Jornal do Brasil 24/02/1957

Ingmar Bergman
Jornal do Brasil 03/03/1957

O tempo e o espaço do cinema
Jornal do Brasil 03/03/1957

Ingmar Bergman - IV
Jornal do Brasil 17/03/1957

Robson-Hitchcock
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - V
Jornal do Brasil 24/03/1957

Ingmar Bergman - VI (conclusão)
Jornal do Brasil 31/03/1957

Cinema japonês - Os sete samurais
Jornal do Brasil 07/04/1957

Julien Duvivier
Jornal do Brasil 21/04/1957

Rua da esperança
Jornal do Brasil 05/05/1957

A trajetória de Aldrich
Jornal do Brasil 12/05/1957

Um ianque na Escócia / Rasputin / Trapézio / Alessandro Blasetti
Jornal do Brasil 16/06/1957

Ingmar Berman na comédia
Jornal do Brasil 30/06/1957

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