A publicação entre nós, pela Editora Cultrix, dos Ensaios Filosóficos, de Susanne K. Langer, assinala uma contribuição do maior interesse. Seguidora do espírito de Ernst Cassirer, ela representa um dos pensamentos mais atuais e atuantes do terreno das especulações em tomo do fenômeno estético.
Acompanhar várias de suas obras anteriores confere a medida de sua formulação. Em An lntroduction to Symbolic Logic (Uma Introduçcio à Lógica Simbólica), colocou em questão a noção de estrutura e trouxe à baila, para a discussão da obra de arte, como "objeto virtual"- definição de Cassirer, em An Essay on Mane noutras obras - a diferenciação entre material e elemento, a fim de demonstrar o salto do real para o expressivo (da tinta na lata para a cor na tela, por exemplo).
Em Philosophy in a New Key (Filosofia em Nova Chave), procurou simplificar os conceitos da semiótica de Peirce (ícone, índice e símbolo), para operar com a simples divisão entre sinal e símbolo, a partir das concepções, respectivas, de linguagem denotativa (sinal) e linguagem conotativa (símbolo). O sinal, sempre fundado em sua própria materialidade, natural ou artificial; o símbolo, na virtualidade que representa o relacionar com outros elementos além da própria evidência física do objeto.
Feeling and Form (Sentimento e Forma) constitui a sua obra mais ambiciosa, aquela que procurou consolidar as bases de sua estética e a mudança de sua definição da obra de arte, de forma expressiva para forma significante. Em que também, com admirável lucidez, escrevia um apêndice sobre o cinema.
Problems of Art (Problemas da Arte) é uma coletânea de ensaios, em que, a par do transe em repensar a própria estética, proposta no livro anterior, realiza observações muito agudas a respeito da dialética entre a idéia de poesia e a noção de discurso poético: "a poesia, de modo algum, traduz alguma espécie de discurso". Ou seja, a constatação de que a linguagem discursiva não é condição sine qua non para a existência da poesia, dando-se, aqui à concepção do "poético", a compreensão específica do inaugurar mediante o mundo verbal, sem vínculo com a generalização proveniente do fazer (poiesis) pervisto no mundo grego.
Os seus Philosophical Sketches (Ensaios Filosóficos), agora traduzidos no Brasil, correspondem a uma sequencia de textos curtos, transcritos de conferências e palestras realizadas, em suma, o que a autora considera esboço ou notas para uma obra de maior fôlego, sucedânea, quem sabe?, da Filosofia das Formas Simbólicas, de Cassirer. Lembrar, inclusive, que Susanne Langer foi a tradutora, para o inglês, do importante Linguagem e Mito, daquele último.
Nesses ensaios, encontramo-la abordando inúmeros temas, inclusive uma nova especulação a respeito da natureza do símbolo. As suas formulações, lógicas, claras, criativas, instigantes, já permanecem como um dado precioso a iluminar todo um processo de indagações filosóficas.
Correio da Manhã
13/06/1971