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Estruturalismo ou Nominalismo

O estruturalismo está na ordem do dia. Moda? Preferimos ver, nêle, um nominalismo - nada mais do que isso em sua essência. Quanto ao fato em si, corresponde à aglutinação do momento das tendências dominantes de - diante de fenômenos ou criações do homem - examinar mais a sua razão funcional, o seu processo de existência e operação, do que especular subjetiva e emocionalmente a respeito dos efeitos daqueles mesmos fenômenos e criações. Isso também é decorrência do avanço enorme, verificado nestes últimos tempos, das ciências da linguagem e da informação. E essa efervescência estruturalista que invadiu os criticos, ensaístas e teóricos franceses encontra, no caso, o seu ponto de partida na antropologia de Lévy-Strauss.
Não há base filosófica para se falar em nascimento de uma ciência, método ou técnica estrutural. Desde a Grécia antiga, a palavra estética já pressupõe estrutura; apenas o conceito do belo varia de época em época. Ou as estruturas são mais abertas ou fechadas, de acôrdo com a carga probabilistica do seu significado, do signo da coisa. Se formos nos fixar no terreno da crítica literária, torna-se fácil comprovar que - pelo menos - em caráter intensivo - desde a época dos formalistas russos, existia um critério estrutural de enfocar o texto, mais preocupado com o processo das obras do que com as sugestões
a posteriori descerradas por elas. Depois, temos o famoso close-reading, seja dos grupos de Chicago, Batton Rouge etc., os princípios de Richards, as técnicas de Ogden, Burke ou Empson. Enfim, embora sob o crivo do pragmatismo, não deixam de ser mais do que importantes os métodos de Ezra Pound, quem, aliás, introduziu pela primeira vez, sob o aspecto sistemático, a concepção do artista inventor, isto é, aquele que vislumbra novos processos. Ora, a busca de processos (inventados ou repisados) resume a atividade estruturalista. Roland Batthes deixa isso bem claro, embora com outras palavras, no seu famoso artigo publicado na revista Esprit, "L'Activité Structuraliste".
Estruturalista também é a estética de Susanne Langer (Philosophy In a New Key, Feeling and Form ou Problems of Art) - que compreende a obra de arte como um objeto virtual e define claramente o conceito de estrutura como elementos em relação, em sua Introdução à Lógica Simbólica. E, antes dela e também a influenciando, Ernst Cassirer ("tôda obra de arte possui uma estrutura teleológica definida porque sempre existe o propósito na criação artística") foi lapidarmente estruturalista em sua Filosofia das Formas Simbólicas obra básica a analisar o processo das citadas formas simbólicas, quatro a saber segundo EC: linguagem, mito, arte e religião. Cassirer, que escreveu outras obras importantíssimas, como An Essay On Man, Linguagem e Mito, As Ciências da Cultura, Substância e Função ou O Mito do Estado, não se limitou, tal qual se depreende, às questões de arte e linguagem: foi ao âmago da ratio estrutural do mito, da magia, das formas primitivas de religião. Pois estrutura nem sempre é racionalismo, tomada como um privativismo de coisas que tem o seu processo geométrica ou matematicamente deduzível. A mesma vereda, com menos profundidade, trilhou R. G; Collingwood, em seus Principies Of Art.
Também é estruturalista a psicologia da Gestalt, de Koffka, Koehler ou Max Wertheimer, o criador do têrmo isomorfismo, na área da psicologia da forma. Assim como o é Merleau-Ponty, que soube criticar a Gestalt, perfazendo a sua fenomenologia da percepção em têrmos estruturais, criticando filósofos tão respeitáveis, como Marx ou Descartes, segundo esse critério. Enfim, talvez o primeiro exemplo completo de estruturalismo moderno esteja na curta, porém luminosa, obra ensaística de Edgar Allan Poe, cujos "princípios de composição", mormente aquele extenso, explicando o método de criação de seu mais conhecido poema - O Corvo - são demonstrações da extrema consciência do artista, com relação ao seu processo.
Toda coisa finita, seja na medida predominante do tempo ou do espaço, invoca estrutura. Nem precisa haver a intenção do homem. A natureza, só ela, dá o exemplo do espontaneísmo estruturalista, a partir do próprio homem e seguido de insetos e vegetais - inúmeros dêsses últimos conferindo demonstrações externas, numa geometria complexa, mas de altíssima precisão, do racionalismo imediato.
Qual seria então o sintoma da febre estruturalista? Isso nos parece provir de um maior entrosamento social no terreno dos meios de comunicação, por causa da máquina. Há o encurtamento das distâncias, há o cinema, cuja riqueza de materiais, transformando-o na mais poderosa forma de especulação estética, permite inclusive uma retomada da catarse, da grande catarse quase perdida.
Poucos também perceberam com tão rara lucidez a necessidade crescente de informar estruturas como o canadense Marshall McLuhan. Até o seu little bit de sensacionalismo se explica, pela própria participação básica da linguagem publicitária no mecanismo criação-comunicação do mundo atual. Após haver publicado The Guttemberg Galaxy e Understanding Media, McLuhan lançou o seu livro-suma, The Medium is the Massage, onde - de maneira isomórfica - no entremeado do texto escrito com o texto visual - ele nos dá uma micro-estrutura prático-teórica do processo geral que pressupõe inclusive uma nova cultura. The Medium is the Massage configura uma reincorporação do Un Coup de Dés, de Mallarmé, mais de meio século depois, no uni verso da segunda revolução industrial. Só que, agora, não se tratá de tentar abolir o acaso e, sim, de incorporá-lo. Hoje há uma, espécie de vale-tudo no terreno daquilo a que se denomina de arte, exatamente porque a rapidez e o encurtamento incessante dos meios de comunicação denunciam a perenidade da coisa, do fato estético tal como um objeto único de culto ou de fruição permanente. Walter Benjamin demonstra isso magistralmente, no seu ensaio antológico, A Obra de Arte no Tempo de suas Técnicas de Reprodução.
Marshall McLuhan serve, assim como outros, para denunciar a alienação de mecanismos tradicionais de comunicação. Um deles, muito propriamente também, com vistas ao que ocorre no Brasil, se refere à crise do sistema de ensino. No seu a priori, não se trata de uma crise basicamente disciplinar, política, social ou psicológica - tudo isso é decorrência da crise de estrutura. O estudante, desde a fase pré-escolar, já na primeiríssima infância, é instigado no conhecimento por meios como a televisão, a publicidade, os anúncios luminosos, o rádio, cinema etc. Quando chega ao colégio, mormente na fase intermediária dos cursos, sente a alienação dos critérios de relação professor-aluno, com referência aos métodos pelos quais, sem qualquer formalismo de conferência (cuja principal variante é a ida ao quadro negro) recebia a informação. A inadequação da mensagem abafa o estímulo. Isso é também estruturalismo.
Não é o caso de criticar a febre "estruturalista". Denota, ao contrário, a sadia preocupação em dissecar as coisas. Ajuda, por outro lado, a compreender a verdadeira infra-estrutura do mundo e atuar sôbre ela - o que é mais importante certamente do que o mero atirar de pedras em vidraças, não se sabendo o que paira por detrás delas.

Correio da Manhã
24/09/1967

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
Tribuna da Imprensa 06/08/1960

Cinema e Literatura
Correio da Manhã 07/10/1961

Um poeta esquecido
Correio da Manhã 24/03/1962

A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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