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Poesia: Flashes

I - Os últimos 13 de E. E. Cummings

A Faber And Faber acaba de lançar 73 Poems, isto é, o que e. e. ownmings escreveu entre 1958 e setembro de 1962, quando morreu. A leitura dêsse volume permite verificar a coerência que o poeta manteve com relação à sua técnica até o expirar final. De Tulips and Chimneys até o útimo livro, foi sempre o mesmo. De um lado, aquêle fluir tão peculiar do seu verso, fragmentando longas frases numa toada sussurrante. Ao contrário de Pound ou Dylan Thomas, o verso de cummings não pede nem o cantabile, nem o imponente recitativo. Escorre o appeal do lirismo numa intimidade silenciosa - o seu estilo é tão pessoal, que toma qualquer poema inconfundível. De outro lado, temos o inventor, o poeta das inovações tipográficas, da pontuações expressionista, da espacialização fisiognomônica. E, isto também, desde Tulipa and Chimneys. E, nos últimos 73, essas características continuam bem dominantes, com o humor, a surprêsa e as soluções inesperadas. Destacamos o de número 42, com a aua arquitetura visual extremamente rigorosa e cuja tradução, em frase linear seria: "nada pode superar o mistério da quietude":

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E a quietude é justamente o que sobrevém sensorialmente através da temperatura verbal de cummings. Se não foi um poeta maior, foi certamente um poeta importante.

II - Jeremias - Praxis de uma dialética do ecletismo

"Sem chorar", passarinho amarelo na capa, Gagarin & Glenn, orelha do sr. José Guilherme Merqulor, ''O Homem-Rã" (título de de poema dedicado sintomaticamente ao sr. Mário Chamie), o gráfico e o discursivo, o manancioso e o telegráfico - montagem do fabuloso ecletismo de Cassiano Ricardo. Jeremias é mais um de seus livros e, como os últimos, desde a Montanha Russa, um desafio à sua antiga geração e uma linha auxiliar dos experimentos de vanguarda da nova geração Também, no sucesso ou fracasso, no bom ou mau gosto, o acadêmico Cassiano desafia as academias, denuncia a estagnação das salas de chá. Uma coisa é indiscutível: trata-se do único poeta consagrado das gerações mais antigas que procura, incessantemente, superar o tempo e captar o novo processo - um processo com o qual não se formou, mas ao qual procura se adaptar, dele participar. Em 22 e a Poesia de Hoje, Cassiano Ricardo não teve melas palavras para se compromeaer decisivamente, ao declarar que a poesia concreta era o movimento mais importante aqui ocorrido desde a época da semana de arte moderna. Jeremias, porém, traduz todas as hesitações do poeta, hesitações, na realidade, tanto criativas, como teóricas . Do concreto e paraconcreto ao verso (ou linossigno, como queiram), está uma vontade de acertar, cega, ingênua e trepidante, embora comprometida com um aceno de retorno ao lugar-comum feito recentemente pela poesia-praxis. A leitura de seus livros é um trabalho de garimpagem, pois, entre os erros e acertos, trata-se de um autor de touchstones, isto é, um poema seu, pobre, pode apresentar um detalhe rico. Saldo positivo da garimpagem de Jeremias: As 7 Cidades, Plebiscito, Posições do Corpo, Salto no Asfalto, Rotação, parte 8 de gog e magog, parte 1 de Nova fuga para o Egito, Pequeno canto exótico, Mariconga, Cemisfério, O Irmão adiado, Viagem em Círculo (repetição) e Categiró. Não são grandes poemas, mas são poemas interessantes. E á é muito, hoje em dia. A poesia não é fácil, especialmente para quem, embora com um mood pessoal, misto de ingenuidade e science-fiction primitivo, não se compromete com a originalidade. Aliás, ortodoxia e radicalismo, no bom ou mau sentido, não se coadunam com o ecletismo. O salto seria hercúleo, mas parou no ar. Cassiano, depois de alguns experimentos, preferiu o terreno neutro, uma posição, como frisamos, mais eclética do que dialética. Nos entretempos ou entrelinhas doa seus "linossignos", teoriza furiosamente, procurando adaptar a essa posição todos os autores e citações que as matrizes teóricas do concretismo lhe forneceram. E entre as circunvoluções ensaísticas, pontificam as explicações sobre os seus próprios livros, os seus próprios poemas. Mas, de qualquer forma, Jeremias está ai. E todos aquêles que não concordarem que os poemas são interessantes, hão de convir de que, pelo menos, não se trata de um poeta desinteressado,

III – Coneretismo & conjuntura

Folheando algune livros de poetas que nos chegam, torna-ae fácil constatar até que ponto a influência do concretismo se alastrou. É o caso de Corpo Verbal, de Mauro Gama; A Fala a Forma, de Tone Giannettl Fonseca, Palavra, de Armando Freitas Filho, ou Proclamação de Barro, de Luiz Fernando Mendes Vianna. Nenhum dêles está comprometido com as diretrizes estéticas do movimento concreto, todos operam na faixa do discurso, enfim, atuam ainda dentro da faixa daquilo que Max Bense denomina de poesia natural, a fim de contrapor à poesia artificial - "aquela espécie de poesia na qual - na medida, inclusive, em que ela seja produzida por meios mecânicos - não há nenhuma consciência poética pessoal com suas experiências, vivências, sentimentos, lembranças, pensamentos, representações de uma faculdade imaginativa etc., em que não há, portanto, nenhum mundo preexistente e em que o escrever não é mais um processo ontológico, através do qual o aspecto do mundo das letras possa referir-se a um eu" (Suplemento Literário do Estado de São Paulo", 10-10-64), Mas, sem o concretismo, a poesia dêles não seria exatamente a mesma. Fernando Mendes Vianna só trai essa preexistência concreta mediante alguns detalhes esparsos. No mais, a sua poesia traduz um esforço tremendo de viver com as palavras com a mesma intimidade de um Neruda ou um Lautreamont, encarando a poética de um modo exacerbadamente oposto àqueles que fixam um temperamento ou posição de avant-garde. Dentro disso, o seu eu pulula aqui e acolá, fala sem medo, às escâncaras, a partir da própria introdução que é a "proclamação de barro". Mas, curiosamente, acerta melhor quando se contém, quando se despoja, como ocorre com o "Poema da Insônia". Já os outros poetas citados permanecem entre o despojamento eabralino e determinadas características do concretismo. No livro de Yone Giannetti Fonseca, além do poema concreto da capa (que não é de sua autoria), retorna outra vez Cassiano Ricardo,· escrevendo o prefácio a uma poesia que é um esforço de secura.

IV- Teoria de Vanguarda

O número duplo (27-28) da revista Arguments, correspondente à segunda metade do ano de 1962, apresenta um importante artigo de Abraham Moles, intitulado "Poesia experimental, poética e arte permutacional". O autor da "Teoria da Informação e Percepção Estética" lança formulações básicas para a atual conjuntura criativa. De início, constata que todas as formas de expressão da arte hodierna sofrem profundas infiuências da civilização tecnológica, que lhes condiciona as transmutações radicais. Assinala que a função teórica assume, cada vez mais, maior importância nos movimentos artísticos contemporaneous e que a desmistificação da criação artística, proposta pelo poeta de vanguarda, também resulta, em lugar da torre de marfim, no aceno para uma experiência coletiva. Outros fiashes de Moles: "O universo lúdico do criador, que se apóia na gratuidade, é consciente e deliberadamente aceito pelo poeta"... "Descortinamos no horizonte uma poesia intetnacional, e através dela o poema permanece numa língua diferente daquela dentro da qual o criador concebeu sua idéia"... "A obra criativa não é mais propriamente o poema: o poema é o resultado e pode muito bem haver outros; ela é, ao contrário, êsse conjunto de regras a que o poeta se impõe, com maior ou menor êxito, e de acordo com o campo de possíveis mais ou menos ampliado que lhe é legado por estas últlmas e que êle haverá de explorar mais ou menos bem."
Num dos seus números de Rot. Max Bense já teve oportunidade de publicar a teoria da arte permutacional de Moles, ouja contribuição teórica já se vai tornando respeitável. Assim como o propõe a poesia concreta, em aua fase mais autêntica e radical - a da "matemática da composição" – Moles e Bense também apontam êsae ludismo ontológicamente neutro que a caracteriza, como uma atitude coletivizante muito mais válida do que as meras endechas verborrágicas daqueles "participantes", alienados estéticamente, que falam no povo como um mero pretexto para falar de si-mesmos.

Correio da Manhã
31/10/1964

 
G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books
Jornal do Brasil 18/08/1957

Sophokles – “Women of trachis”
Jornal do Brasil 03/11/1957

Piet Mondrian
Jornal do Brasil 01/12/1957

The Letters Of James Joyce
Jornal do Brasil 12/01/1958

O poema em foco – V / Ezra Pound: Lamento do Guarda da Fronteira
Correio da Manhã 05/10/1958

Erza Pound, crítico
Correio da Manhã 11/04/1959

Uma nova estrutura
Correio da Manhã 31/10/1959

"Revista do Livro", nº 16, Ano IV, dezembro de 1959
Tribuna da Imprensa 13/02/1960

E. E. Cwnmings em Português
Tribuna da Imprensa 04/06/1960

O último livro de Cabral: “Quaderna”
Tribuna da Imprensa 06/08/1960

Cinema e Literatura
Correio da Manhã 07/10/1961

Um poeta esquecido
Correio da Manhã 24/03/1962

A Grande Tradição Metafísica
Correio da Manhã 05/05/1962

Reta, direto e concreto
Correio da Manhã 06/06/1962

A Questão Participante
Correio da Manhã 18/08/1962

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