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G. S. Fraser "The modern writer and his world" - Criterion Books

G. S. Fraser, crítico e poeta de nacionalidade escocesa, é um nome bem conhecido na atualidade, principalmente na primeira das funções, já que, como poeta, não possui obra digna de maior realce.
O presente volume, "The Modern Writer and His World" (O Escritor Moderno e Seu Mundo), se constitui num apanhado geral da evolução da literature inglêsa a partir do fim do século passado, tanto no que se refere à poesia, como à prosa, ao teatro e à crítica.
Na parte destinada à poesia, encontram-se observações e considerações bem interessantes, principiando no momento em que o autor tece um paralelo com o desenvolvimento da literatura francesa. Nesse ponto, de início, leva a cabo uma extensa análise do movimento simbolista, a começar por Baudelaire. A respeito do criador de "Les Fleurs du Mal", procura evidenciar sua importância, defendendo-o, inclusive, das alegações de Sartre, contidas em sua psicoanálise existencial ao grande poeta, que, Segundo Fraser, é uma biografia insuficientemente documentada. Posteriormente demonstra como a atuação de Mallarmé poderia ser julgada muito mais subversiva que a do próprio Baudelaire, caso fôsse entendido em sua época. Descreve então as últimas consequências a que chegava o simbolismo, usando como veículo uma exaustiva análise do famoso sonêto do cisne, de Mallarmé. Aliás, dessa peça que é praticamente intraduzível, oferece Fraser uma tradução correta, porém incapaz de transmitir boa parte dos efeitos proporcionados no original. Lança, finalmente, com muita propriedade de observação, uma conclusão sôbre a poesia de Mallarmé: é um poeta difícil, mas é duvidoso até que ponto poderá ser considerado obscuro; a dificuldade em extrair o significado de um poema como o que acabamos de examinar (refere-se ao do cisne, n. r.) é a mesma que a de solver um complicado grupo de equações; os símbolos da poesia simbolista, assim como os da matemática, nos oferecem uma forma de pensamento rigorosamente coerente, mantida a uma certa distância da vida.
Estabelece Fraser, outrossim, a diferença com a concepção de Rimbaud - o qual, diz ele, procurava também conferir uma transcendência poética á própria existência, em oposição a Mallarmé, cujo "mágico universo da poesia era algo que propiciava uma fuga ao inócuo vazio da existência atual". Aponta a vigência de uma tradição rimbaudiana, nela colocando poetas como Hart Crane ou Dylan Thomas. A seguir, demora-se, evidentemente, na enorme influência de Pound, discute Eliot, confere grande importância à atuação dos dois poetas, procurando também destacar as diferenças existentes entre as suas respectivas obras, especialmente no que relaciona à tendência dramática de Eliot, em contraposição com o descritivo espacial de Pound. Para tanto compara os conhecidos poemas "Portrait of a Lady"e "Portrait d'une Femme".
Fraser considera, no entanto, Yeats um poeta ainda maior do que Pound ou Eliot, o que, embora se constitua numa opinião respeitável, revela, por outro lado, um desajustamento de perspectiva para com o que sejam os problemas da poesia em nosso tempo. Não há dúvida de que Yeats possui uma dicção, uma carga verbal, que poucos até hoje alcançaram, porém são justamente as suas qualidades mais evidentes que, em contraposição com Pound, principalmente, resistem menos a uma erosão do tempo, no sentido de permanecerem atuantes como vetar para o futuro.
A melhor parte do livro é aquela em que analisa a influência do surrealismo na poesia inglêsa, quando o problema é focalizado com muito discernimento, ao contrapor os excessos a que conduziria um automatismo psíquico radical, com a constante e tradicional preocupação dos britânicos para com o problema de estrutura, impedindo, por conseguinte, que se chegasse ao impasse idêntico ao de um bom número de poetas franceses. Visando a um caráter mais prático em sua exposição, compara poemas de Soupault, Eluard, De Chirico, Picasso com Dylan Thomas, George Barker, Gascoyne etc.
Obras da maior transcendência como "Os Cantos", de Pound, ou "Waste Land", de Eliot, são longamente analisadas.
Nas seções concernentes ao romance e ao teatro, Fraser apresenta uma sérte de considerações sôbre o desenvolvimento e principais influências nas duas artes. Quanto ao teatro, detém-se no estudo do drama em linguagem versificada, ressaltando a saliência do papel de Eliot; na parte geral, discorre a respeito da evolução do teatro inglês, através de uma dissertação sob o título "Decadência do Teatro Vitoriano", onde, inicialmente, mostra o estado estéril em que se encontrava a arte dramática nos fins do século passado na lnglaterra, cuja recuperação viria a partir de Oscar Wilde e
Bernard Shaw.
Joyce, Lawrence, Henry James, Conrad, Wyndham Lewis, Virginia Woolf, Proust e sua influência, figuram entre os escritores que mais merecem sua atenção no que se retere ao romance, sendo forçoso destacar, em especial, a eficiente análise técnico-interpretativa que é feita sôbre o Ulysses, de James Joyce. Aqui também torna-se imperioso lamentar que, enquanto suas preocupações para o "Ulysses consomem oito páginas do volume (sem falar nas citações mais ou menos passageiras), Fraser apenas comenta "Finnegan's Wake" ligeiramente, a propósito de um parágrafo sôbre Vico. Tal, acreditamos, corresponde a uma falta de metodologia pois, mesmo que Fraser julgue
Finnegan's Wake destituído de qualquer valor, deveria, por outro lado, procurar evidenciar essa concepção e jamais passar em branco pela derradeira obra de Joyce.
A parte de crítica fornece também assunto para que mais uma vez a atuação de Eliot seja colocada em primeiro plano, o que absolutamente não carece de razão. Logicamente, I. A. Richards e Empson vêm à tona, assim como Leavis e Herbert Read. O papel de Pound como crítico é também demoradamente estudado, sendo-lhe conferido o inegável mérito no tocante à questão de promover a literatura dentro do máximo possível, como grande empresário que foi.
Em resumo pode-se dizer que "The Modern Writer an His World" se constitui num livro bastante interessante, dado o tema que aborda e o fato de se vazar num estilo escorreito, uma apresentação clara das idéias geradas à partir dos estudos e observações realizados pelo autor. Não se trata, evidentemente, de uma obra de maior alcance e que seja necessária aos estudiosos no assunto, principalmente se levarmos em conta que a organização dêsse volume não obedece a um critério orientado através das perspectivas formais da evolução da obra de arte, o que justamente lhe confere um caráter algo desordenado no que se refere ao método de desenvolver a exposição. Fraser não é um técnico – está mais ligado a uma corrente que adota um processo filosófico-impressionista para o manejo da crítica. Dentro dêsse esquema, calcado em considerações mais diretas, isto é, sem um lastro de fundamentações teóricas - embora cientificamente irrisório - êle se realiza com sucesso.

Jornal do Brasil
18/08/1957

 
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