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Em debate MPB & Vanguarda

Depois de tanto barulho, pode-se perguntar: a música popular, brasileira ou não, pode ser vanguarda? De início, dois elementos - música popular e vanguarda - com setas significantes a partir de campos opostos. Música popular compreende a diluição, evidentemente não-intelectual, feita pelo vulgo dos fatores estruturais da música em si, melhor dizendo, da música chamada erudita. Vanguarda, por seu turno, implica em movimentos e atitudes de ruptura com sistemas e convenções estéticos, feitos por quem possua, admissivelmente, a formação intelectual, o conhecimento de causa. Assim sendo, a música popular não poderia nunca ser feita por quem é capaz de vanguarda, porque este último já detêm o pecado original do saber especializado, do refinamento, ingenuidade, inocência, etc. Ou como a arte do louco e da criança.
Então, um primeiro ponto de partida: a música popular de vanguarda não pode ser feita por gente, tipo Ismael, Sinhô, Cândido das Neves, porque a sua intencionalidade jamais ultrapassará as relações imediatas de vida e arte, ou efeito-causa-efeito (experiência-instrumento-expressão da experiência). Mas, sendo assim, pode ser música popular de vanguarda? A indagação é expletiva, se tomarmos em conta a reduzida importância da nomenclatura para certos fins. O que se configura, no momento atual, não é o impasse da simples MPB, pois esta nunca poderá estar em crise - ou seja, ninguém, da noite para o dia, poderá decretar que o samba acabou; a batucada, a caixa de fósforos, o assovio e o rebolado não tomarão conhecimento disso. Mas, em paralelo, dois fatores essenciais: a chamada música erudita, desde as experiências concretas e eletrônicas, entrou em ritmo, senão de impasse, de transição (transição da hegemonia dos instrumentos convencionais); as gerações mais novas cultas, sentindo a crise e o impasse, momentâneos ou não, das formas literárias e sua capacidade de atuação - tudo isso ligado à necessidade de protesto ou renovação criativa ou existencial, em âmbito universal - passou a fundir suas preocupações com alguns elementos da música popular. Daí, nasceu um estágio intermediário, onde se processa uma dialética entre fatores refinados, simplista, emocional. A experiência deixou de se restringir aos laboratórios eletrônicos ou aos grupos pequenos de pesquisas concretas com o ruído e veio para a rua; passou a desfilar nas pistas dos microssulcos.
Ninguém melhor do que os Beatles reflete a miscigenação formal e, em tal ponto, a sua influência, além de válida, foi arrasadora. Torna-se lícito dizer que eles, de certo modo, atingiram a definição de música popular de vanguarda (mesmo porque são altamente populares). No Brasil, ninguém representou melhor isso do que Caetano e Gil. O que é vanguarda, em ambos os casos (Beatles e Caetano-Gil) se refere à dialética entre instrumentos culturais heterogêneos. Isto significa um caminho como outro qualquer, mas que não será válido, no entanto, ser considerado fácil de trilhar ao primeiro acorde de guitarra elétrica...

Correio da Manhã
04/11/1970

 
Vogeler: resposta do tempo
Correio da Manhã 19/11/1964

Orestes: Poesia e Seresta
Correio da Manhã 16/12/1964

Benedito Lacerda: ou A Flauta de Prata
Correio da Manhã 30/12/1964

Cândido das Neves “Índio”: seresteiro da cidade
Correio da Manhã 06/01/1965

Joubert de Carvalho: o criador de "Maringá"
Correio da Manhã 10/02/1965

Carlos Galhardo: O Homem da Valsa
Correio da Manhã 10/03/1965

Freire Júnior: tempo de serenatas
Correio da Manhã 17/03/1965

Augusto Calheiros: A patativa do Norte
Correio da Manhã 31/03/1965

Cascata: Jorrar de Bossa
Correio da Manhã 07/04/1965

Patrício Teixeira: da modinha ao carnaval
Correio da Manhã 21/04/1965

Eduardo Souto: Manancial de Música
Correio da Manhã 20/05/1965

Heitor: prazer do samba
Correio da Manhã 05/10/1966

Estética do Fado
Correio da Manhã 14/05/1967

Samba: glória do malandro
Correio da Manhã 28/07/1967

Foi um Rio
Correio da Manhã 10/03/1970

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