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Joubert de Carvalho: o criador de "Maringá"

Da canção, da valsa, do fox, do cateretê, até à marchinha carnavalesca, é Joubert de Carvalho um dos compositores mais ativos. As suas melodias rasgaram o território nacional e, algumas delas, como “Maringá” ou “De Papo Pro Á”, tornaram-se lugar-comum no assobiar diuturno, distrído.
A sua riqueza melódica, de assimilação imediata, constitui fato irretorquivel. O ritmo é simples, vazado em padrões definidos e a cor local, regionalista, de determinadas composições, provem puramente das letras ou do estilo e sotaque, às vezes intencional, dos intérpretes.
Um dos fatores que asseguraram ainda maior sucesso às suas músicas reside na colaboração com o poeta Olegário Mariano, que escreveu muitas letras para elas. Se a atualidade de Olegário, como poeta, é um ponto mais do que discutível, não resta dúvida, que os seus versos de grandiloquencua parnasiana agradam imediatamente a certas faixas do consumo popular – mesmo que a um justo curto prazo. E esses versos – por sis ó, de estética muito discutível – é preciso não esquecer – concatenados com música, ganham dimensão muito diversa e menos autônoma como coisa em si. São várias as produções da dupla Joubert de Carvalho – Olegário Mariano.
Além do já mencionado “De Papo Pro Á” (Quando no terreiro/ faz noite de lua/ e vem a saudade/ me atormentá/ eu me vingo/ tocando viola/ de papo pro á), vale evocar a bonita “Dor de Recordar”, canção-blue gravada no reverso da face de “A Voz do Violão”, onde Chico Alves, além de cantar, assobiava um trecho: “Deixa que a boca em tua boa, embriagada…” Ou, então, o também famoso “Zingara”: “Tu, com os olhos de quem vê no acaso o amor da gente…”
Os grandes intérpretes do nosso cancioneiro popular cantaram e gravaram fartamente as composições de Joubert de Carvalho, De todos, o mais constante nisso foi Gastão Formenti, seja na Odeon, na Parlophon, na Victor ou na Brunswick. Entre as inúmeras músicas do compositor, contidas em seu repertório, lá está aquela mais famosa de todas, afinal quase ou tão conhecida como uma “Aquarela do Brasil” ou uma “Jardineira”: “Maringá”, lançada na Victor, em 1932, com o nº 33.568. Mais tarde, nas mesma fábrica, Carlos Galhardo, então em sua melhor fase, com uma voz altamente lapidada e despido quase inteiramente do acento regionalista, voltaria a valorizar a letra célebre: “Maringá, Maringá/ depois que tu partiste/ tudo aqui ficou tão triste/ que eu garrei a imaginar/ Maringá, Maringá/ para haver felicidade/ é preciso que a saudade/ vá bater noutro lugar/ Maringá, Maringá/ volta aqui pro meu sertão/ prá de novo o coração/ de um caboclo assossegá”. Mas não foi só “Maringá”. Lá estão, na voz cheia e generosa de Formenti, “Zingara”, “De Papo Pro Á”, “Beduíno”, “História de Toda a Gente”, “Hula”, “Guanabara”, “A brasilidade”, “Dá-se um Jeitinho”, “Dor”, “Se Ela Te Oferecer Um Grande Amor”, “Foi Num Dia de São João”, “A Casinha de Meu Bem”, “Os Filhos da Candinha” etc.
O nosso grande seresteiro, Sylvio Caldas, também valorizou o repertório com suas músicas: “Minha Casa” (“Minha casa é tão bonita/ que dá gusto a gente vê/ tem varanda, tem jardim”), “Nunca Soubeste Amar” (Ah, eu lamento tanto!/ a tristeza dos céus carregados/ de nuvens que são um presságio”) e “O Silêncio do Cantor” (também gravado por João Dias e serviu de homage à morte de Chico Alves: “Tu, só tu Madeira fria/ sentirás toda a agonia/ do silêncio do cantor”) são as mais bonitas.
Carmen Miranda popularizou as grandes marchinhas carnavalescas de Joubert de Carvalho. Logo de saída, lançou o famosíssimo “Tá i, eu fiz tudo prá você gostar de mim/ oh meu bem, não faz assim comigo não/ você tem, você tem que me dar seu coração”. Imediatamente após, a bem conhecida “Amor! Amor!”. A seguir, “É de Trampolim”, “Se Você Quer” (com letra de Olegário Mariano), “Sossega o teu Corpo, Sossega!”, “Quem Bom que Estava”, “Bom Dia Meu Amor!”, “Ninguém Tem um Amor igual ao Meu”, sem esquecer a fabulosa “Um Pouquinho de Amor” (“Ofereceram-me um palácio à beira-mar/ com muito luxo para eu ir lá morar/ colar de perolas, brilhantes, esmeraldas/ de vez em quando Caxambu, Poços de Caldas”)
Jorge Fernandes é outro veterano que cantou as suas melodias, destacando-se, entre elas, a valsa-cancão “Pierrô”, com letra de Paschoal Carlos Magno, regravada há pouco por Sylvio Caldas.
Entre os grandes hits da noteavel fase de Orlando Silva na Victor, lá estão algumas composições de Joubert de Carvalho: a valsa “Maria Maria”, o fox-blue “Em Pleno Luar” e a valsa “Por Quanto Tempo Ainda?”, uma das mais famosas, quando “o cantor das multidões” proporcionava um autêntico show de virtuosismo vocal: “Talvez só por viver à sombra da ilusão/ envolto num silêncio frio, direi:/ por quanto tempo ainda, esperarei/ teu amore m vão?”.
Em 1927, Frederico Rocha, o lançado do “Voronoff”, de Eduardo Souto, em disco, já cantava uma de suas marchinhas, “As Valentinas” e, logo depois, o frox-trot, “Prisioneiro do Teu Amor”.
Francisco Alves, acompanhado de violões, gravou, de início, um dos tangos de Joubert de Carvalho, “Traição”. Depois, veio com “Castelo de Luar”, o já citado “Dor de Recordar”, “A Vida é Sempre a Mesma Coisa”, “Fui Eu o seu Primeiro Amor”, “Entre Nós Dois”, “Valsa do Rio” e uma das mais belas valsas do seu repertório, “Lembro-me Ainda”: “Lembro-me ainda que foi por teus olhos pisados…”
A enumeração acima já confere a medida de um compositor, com obra vasta, versatile, variada – com algumas peças definitivamente consagradas e incorporadas à evocação melódica popular.

Joubert Gontijo de Carvalho nasceu a 6 de março de 1900, em Uberaba, Minas Gerais. Depois de um período em São Paulo, onde presseguiu seus estudos, chegou no Rio em 1920, formando-se em Medicina, cinco anos mais tarde.
Porém, como já é comum no caso dos compositores, desde cedo, a música atraia-o, inspirava-o. Basta dizer que, aos 13 anos, já compunha a sua primeira valsa. Posteriormente começou a compor tangos repetidamente, sendo que um deles, “5 de janeiro”, consiste em homenagem a Oswaldo Cruz. Era a época em que se fascinou porritmos estrangeiros: além da valsa e do tando, o fox-trot e o fox-blue. Logo encontrou editores que aceitassem suas composições.
O seu primeiro grande sucesso público deu-se com o fox-trot, “Principe”, que seria levado para a Europa por Madame Rasini, que aqui estivera com seu teatro de revista. A partir de 1927, começa a sua colaboração com Olegário Mariano. Em 1935, compuseram juntos uma operetta, denominada Mariusa, que, no entanto por desinteligênci com um empresário, ficou apenas uma semana em cartaz extraviando-se também a partitura.
Em 1931, nasce então “Maringá”, inspirada, alias, nos dramas das secas do Nordeste. A força de Maringá foi tamanha que acabou sendo o nome de uma cidade do Paraná, com uma rua com o nome de Joubert de Carvalho.
Entre 1930 e 1940, o sucesso e a plena aceitação de suas músicas efetivaram-se definitivamente. São cerca de 500 peças publicadas, uma casacata de ritmos e melodias, espraiando-se generosamente. Criou uma série de composição chamadas brasilidades, sendo Vasco Mariz, “ciclp de canções de câmara de caráter genuinamente brasileiro” e que “significam um capítulo à parte no lied nacional”. Entre as peças desse ciclo, podemos citar “Dá-se um Jeitinho”, “Gostinho” e “Neguinho”.
Joubert de Carvalho, ainda vivo, é autor de um livro, “Espírito e Sexo”. Hoje em dia, encontra-se praticamente afastado, mas já deixou uma contribuição respeitável. Não foi um renovador, mas, no aspecto romântico da música popular, mesmo tomando um conta o carater de “importação” de várias peças, deixou marcada a sua passagem inconfundível.

Joubert de Carvalho: composições:
5 de janeiro; Pressentimento; Lágrimas de Pierrô; O Príncipe; Zezé Leoni; Desalento; Último Tango; Mariusa; Felicidade; Florita; Desde sempre; O Amor e o sol Mundos afora; O Tempo não ficou; Maringá; Canarinho; Rolinha; A Casinha de meu bem; Os Filhos da Candinha; Coboquinha; Sombrinha azul; História de toda gente; João Capeta; Foi num dia de São João; Vontade… de querer; Dá-se um jeitinho; Se ela te oferecer um grande amor; Dor; Cabecinha de vento; O Índio do Corcovado; Moleque sararea; Guanabara; Lullaby; Com o pensamento em você; Não me abandones nunca; Minha casa; Nunca soubeste amar; O Silêncio do cantor; Flamboyant; Tá i, prá você gostar de mim; Gostinho diferente; Neguinho; Senão me tens amor; Eu sou do barulho; Quero ver você chorar; Quero ficar mais um pouquinho; Tem gente aí; Amor! Amor!; É de trampolim; Sossega o teu corpo, sossega; Que bom que estava! Um pouquinho de amor; Ninguém tem um amor igual ao meu; Terra morena; Pierrô; Eu tinha um beijo para a sua boca; Arlequim; Marilena; Por quanto tempo ainda?; Maria, Maria; Em pleno luar; As Valentinas; Prisioneiro do teu amor; Devolve os meus beijos; Se um dia pudesse…; Felicidade… é quase nada; Traição; Castelo de luar; A vida é sempre a mesma coisa; Fui eu o seu primeiro amor; Entre nós dois; Valsa do rio; Lembro-me ainda.

Correio da Manhã
10/02/1965

 
Vogeler: resposta do tempo
Correio da Manhã 19/11/1964

Orestes: Poesia e Seresta
Correio da Manhã 16/12/1964

Benedito Lacerda: ou A Flauta de Prata
Correio da Manhã 30/12/1964

Cândido das Neves “Índio”: seresteiro da cidade
Correio da Manhã 06/01/1965

Joubert de Carvalho: o criador de "Maringá"
Correio da Manhã 10/02/1965

Carlos Galhardo: O Homem da Valsa
Correio da Manhã 10/03/1965

Freire Júnior: tempo de serenatas
Correio da Manhã 17/03/1965

Augusto Calheiros: A patativa do Norte
Correio da Manhã 31/03/1965

Cascata: Jorrar de Bossa
Correio da Manhã 07/04/1965

Patrício Teixeira: da modinha ao carnaval
Correio da Manhã 21/04/1965

Eduardo Souto: Manancial de Música
Correio da Manhã 20/05/1965

Heitor: prazer do samba
Correio da Manhã 05/10/1966

Estética do Fado
Correio da Manhã 14/05/1967

Samba: glória do malandro
Correio da Manhã 28/07/1967

Foi um Rio
Correio da Manhã 10/03/1970

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